terça-feira, 21 de junho de 2011

Um sonho chamado 'Igreja'


Pr Luciano R. Peterlevitz – Missão Batista Vida Nova, 19.06.2011


Introdução

Alguém já disse que não existe igreja perfeita. Isso é verdade. “Se você encontrar uma igreja perfeita, não entre nela. Você vai estragá-la.” Howard Hendricks

Mas precisamos sonhar que seremos melhores. Não podemos deixar de lutar pela Igreja idealizada nas Escrituras.

“Eu tenho um sonho”. Esta é a famosa frase de Martin Luther King, pastor batista que morreu pela luta dos direitos humanos, em especial pela direito dos negros à dignidade.

Utopia: grego ou-topos, “não-lugar” ou “lugar nenhum”. "A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar"

(Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio).

Utopia é a caminhada constante e inacabada. É a linha do horizonte que motiva a caminhada.

“Ao erguermos a vista não vemos fronteiras.” Ditado japonês.

“A tragédia não é quando um homem morre; a tragédia é aquilo que morre dentro de um homem enquanto ele ainda está vivo” (Albert Schweitzer).

Quando falamos de Igreja, qual deve ser nossa utopia? Há ser esta: A igreja é uma extensão da encarnação de Cristo. Palavra/logos: Cristo encarnado. Cristãos são pequenos cristos. Jesus sinalizou a chegada do reino de Deus. Assim também, a Igreja é uma agência do Reino. Sonho com uma igreja que seja a extensão da encarnação de Cristo. Explico.


1. Uma Igreja que encarna a Palavra de Deus

A Igreja é a extensão da encarnação de Cristo na medida em que ela, como Cristo, conhece a Palavra de Deus e encarna/aplica essa palavra em sua própria vivência.

Jesus conhecia a Bíblia Hebraica muito mais do que os doutores da Lei. Imagine o menino Jesus, com seus doze anos, dando um nó na cabeça dos doutores, com perguntas difíceis. Jesus combateu Satanás citando as Escrituras sagradas: Mt 4.

Josué 1.8: Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido. (ARA)

Evangelho de João 5.39: Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. (ARA)

Isso é utopia: todos os crentes estudando e conhecendo em profundidade as Escrituras. Mas esse é o meu sonho de Igreja: E perseveravam no ensino dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. (Atos 2.42 – ARA)

Você, cristão, conhece as Escrituras? Você está preparado para responder a todo aquele que pedir a razão da esperança que há em você?

“Prefiro falar de teologia bíblica às paredes do que falar de ideologia humana às multidões”.

Sonho com uma Igreja que construa estruturas facilitadoras do ensino bíblico (EBD; estudos em grupos pequenos; cursos; etc...). Você quer fazer parte dessa comunidade? Então dê o primeiro passo: comprometa-se com as Escrituras.


2. Uma igreja humana

A Igreja é a extensão da encarnação de Cristo na medida em que ela, como Cristo, representa a nova humanidade à imagem e semelhança de Deus.

Romanos 8.29: Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (ARA)

Normalmente quando falamos em humanidade pensamos em imperfeição. As pessoas, quando querem se justificar de um erro, dizem: também sou humano. Entretanto, na Bíblia, a humanidade (o ‘homem’, o adam) é a humanidade criada à imagem e semelhança de Deus. Você não foi criado para ser representante da imperfeição. Mas também você não foi criado para ser anjo, para ter asas e um anel brilhoso sobre a cabeça. Você foi criado para ser gente. E a igreja é o lugar de gente.

A Igreja precisa tratar as pessoas como pessoas. Uma alma vale mais do que o mundo inteiro. Nesse sentido, qual é o grande desafio da Igreja?

1. Amar mais os seres humanos do que as coisas. Vivemos numa sociedade que fundamenta suas relações pelo potencial mercadológico. O que manda é o capital, a possibilidade de ascensão social, o lucro. Há uma ‘coisificação’ do ser humano. O ser humano, a imagem de Deus, torna-se a imagem da ‘coisa’. Bem disse o teólogo John Pawel: “Deus nos deu as coisas para usar e as pessoas para amar e não seu contrário, usar as pessoas e amar as coisas”. Mas, alguém já disse que podemos parafrasear a famosa frase de Descartes, “Consumo, logo existo”.

2. Conviver com as opiniões contrárias sem concordar com elas. Essa afirmativa pode ser exemplificada pela guerra entre religião e homossexualismo. Vejo que discordância e diálogo podem caminhar juntos. Sigo a proposta de Marcelo Gomes, pastor da 1ª IPI de Maringá. Homofobia, do grego “homo” (igual) e “fobia” (medo), significa, literalmente, “aversão, medo ou ódio em relação ao homossexual”. Nesse sentido, como cristãos, não podemos ser homofóbicos. Não podemos ter medo ou ódio dos homossexuais. Propõe-se, então, o uso do termo Homodiafonia, do grego “homo” (igual) e “diafonia” (dois sons distintos, dissonância, discordância). Significa, literalmente, discordância da opção homossexual. Nosso desafio discordar da opção homossexual sem desprezá-los como seres humanos e cidadãos.

A igreja precisa acolher todas as pessoas. Lembro-me de uma palestra do pr. Estevam Fernandes, pastor da Primeira Igreja Batista em João Pessoa, em 03/01/2007. Estevam afirmou que em sua igreja existe um ministério para divorciados e viúvas. “Nossa igreja não exclui essas pessoas, mas cuida delas. Elas fazem parte da história da nossa igreja.”

A Igreja, como o Corpo de Cristo, como extensão da encarnação de Cristo, há de lutar pelo valor e dignidade da vida humana. Não foi por coisas ou por ideologias que Jesus morreu. Ele morreu por pessoas, por gente de carne e osso.


3. Uma igreja unida num mesmo pensamento

Filipenses 2.2-5: Completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. 3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. 4 Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... (ARA)

A vida da comunidade é extremamente perigosa. Pois os crentes farpeiam-se mutuamente: Fl 4.2. Digladiam-se por mesquinharias.

Em Fl 2.5-11 Paulo expõe a doutrina da kenosis: a auto-humilhação ou o auto-esvaziamento de Cristo. Essa doutrina é fator regular dos relacionamentos na Igreja.

Fl 2.2: “tenhais o mesmo modo de pensar”. Não se trata de uniformidade de opiniões. Antes, significa que todas as opiniões devem se submeter ao exemplo de Cristo.

Somos surpreendidos com o exemplo de Cristo, porque Ele abriu mão de tudo o que era e de tudo o que tinha.

Gostamos de pensar em nossos direitos. Gostamos de achar que sempre temos a razão em nossas mãos. Gostamos de vencer uma discussão. Gostamos que nossas preferências pessoais prevaleçam.

Já vi muitos crentes deixando suas igrejas porque a igreja não acatou uma opinião pessoal deles. Mas, saber conviver com opiniões contrárias é uma prova de maturidade.

Somos surpreendidos com o exemplo de Cristo, porque Ele sendo o Senhor, fez-se servo.

Alguém já disse que pecado é “auto-coroação”. É a monarquia do egoísmo. A serpente propôs enganosamente tornar o homem como Deus. Evangelho propõe tornar Deus como homem.

Por que nos magoamos quando somos criticados? Não é porque queremos ser elogiados? Não é porque buscamos os primeiros lugares?

Será que nos esquecemos que somos simplesmente servos?

Sensibilidade da Minosa pudica (dormideira): quando tocada, sempre se fecha.

Alguém disse: “Sou pastor, e por isso devo ser tratado com proeminência.” Mas, como salientou Glenio Fonseca Paranaguá, “o espelho nunca chama atenção para si mesmo, a não que esteja sujo.

*Lembro-me de um acampamento de jovens, que eu participei quando adolescente. Um pastor, preletor do retiro, que queria dormir na cama porque era pastor.

"A igreja é a única organização que existe primariamente para benefício dos não-membros” C. S. Lewis

A Igreja é a extensão da encarnação de Cristo na medida em que ela, como Cristo, vive menos para si e mais para os outros. Seus membros pensam do ‘mesmo modo’, ou seja, todos tem a consciência de que são chamados para ser servos uns dos outros.


Conclusão

A grande maravilha do cristianismo não é o fato de entregarmos nossa vida a Jesus e compartilharmos tudo o que somos com Ele. A grande maravilha é o fato de Jesus entregar sua vida por nós e compartilhar conosco tudo o que Ele é. Isso é Igreja: é a comunidade que reflete o rosto de Jesus.

Vale à pena sonhar e lutar para que a Cristo seja efetivamente o Corpo de Cristo nessa terra. Convido você a ser parte integrante dessa comunidade. Convido você viver essa utopia.

“Rejeitei a igreja durante algum tempo porque encontrei bem pouca graça ali. Voltei porque não descobri graça em nenhum lugar.”
Phillip Yancey

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