terça-feira, 31 de maio de 2011

Utopia


Só alguns estão satisfeitos com o mundo assim como ele é.

Só alguns poucos acreditam que eles possam transformar este mundo.

O primeiro grupo é feliz mas deve ser meio maluco.

O segundo só pode ser mesmo maluco.



Hans TenDam. Politics, civilization & humanity, 1999. Versão para internet, prefácio.

FÉ AUTÊNTICA


Pr Luciano R. Peterlevitz


Leia o Salmo 115.

Introdução

A palavra “fé” é muito usada hoje em dia. Mas, quando falamos em fé, falamos de fé em algo ou em alguém. A palavra “fé” por si mesma é vazia. Ela só tem sentido quando relacionada a algum objeto. Mas aqui está o problema. Pois todos tem fé. Mas poucos tem esperança! Por que? Porque crêem em muita coisa vazia, que não lhes traz segurança. Não crêem na ajuda do alto, mas na auto-ajuda.

Prova disso é que a internet está cheia de dicas sobre confiança. Digite a palavra “confiança” no Google, e encontrará aproximadamente 30.500.000 resultados. Digite a expressão “confiança em Deus”, e encontrará aproximadamente 7.570.000 resultados. Tanta fé, mas tanto vazio.

Para refletirmos sobre a dinâmica da fé autêntica, refletiremos no Salmo 115.

A idolatria: v.1-8

Pior do que adorar um falso deus, é reduzir o Deus verdadeiro a um falso deus. Quando reduzimos Deus a um ídolo?

Reduzimos Deus a um ídolo quando encaixamos Deus na previsibilidade. Pois, Deus é imprevisível. Ele sempre nos surpreende. Reduzimos Deus a um ídolo, quando achamos que Ele vai agi sempre de acordo como achamos que Ele deve agir.

Se você acha que, em virtude da sua fé, Deus não pode deixar de fazer um milagre, então você o reduz a um ídolo. Mas, por outro lado, se você acha que Ele nunca faz milagres, então você também o reduz a ídolo.

Reduzimos Deus a um ídolo quando achamos que Deus existe para nos servir e nos dar prazer. Ídolos são objetos feitos por mãos humanas. As mãos humanas constroem um ídolo, para que este sirva aos interesses daquele que o construiu.

Reduzimos Deus a um ídolo quando achamos que, através das convicções doutrinarias ou, como resultado da nossa fidelidade a Deus, todos os nossos sonhos se realizarão e tudo sempre dará certo.

*Exemplo: Mica (Jz 17-18). A falsa confiança nos falsos deuses. Mas, pior do que isto: a falsa confiança no Deus verdadeiro: “Agora sei que o Senhor me fará bem” (Jz 17.13). Mica tinha uma imagem de escultura e um ídolo de metal fundido, e tinha um sacerdote levita. Então, o que poderia dar errado? Triste história. Pois os danitas roubaram os ídolos de Mica: Jz 18.24!

O Deus que você adora é o Deus criador dos céus e da terra ou é um deus criado à sua imagem e semelhança. Quem é o Deus em que você acredita?

A fé autêntica: v.9-18

“Confiar”, aqui no Salmo 115.9, é a tradução do verbo hebraico batah, que também pode ser traduzido por “sentir seguro”. O sentido é de segurança.

O verbo hebraico batah “expressa aquele sentido de bem-estar e de segurança resultantes de possuir algo ou alguém em depositar confiança.” (Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p.169). Ou seja, a segurança não vem do ‘tamanho’ de sua fé, ou de sua capacidade de crer. Neste caso, o risco é transformar a fé num mérito nosso, que regula nosso ‘contrato’ com Deus, e que obriga Deus a fazer aquilo que queremos que Ele faça. Não. Nossa segurança não vem dos nossos méritos. Nossa segurança vem do Senhor. O fundamento da nossa esperança não é nossa fé, mas a graça e o poder de Deus. É por isso que o salmo reitera, por diversas vezes, que o Senhor “é o seu auxílio e escuto”. Por que esperamos no Senhor? Por causa da sua fidelidade e misericórdia (Sl 115.1).

Ouvi certa vez a história de um grupo de botânicos que exploram altas montanhas, em busca de novas espécies de plantas. Num dado momento, eles avistaram uma bela flor, encravada na encosta inclinada de uma alta e perigosa montanha. Para apanhar a flor, eles precisam de alguém leve e pequeno, para que descesse por uma corda. Entre eles estava um menino, a quem os botânicos pediram para realizar esse trabalho delicado. O pequeno olhou a profundidade do abismo, pediu para os botânicos aguardarem, deu meia-volta, e correu em direção ao acampamento onde o grupo estava instalado. Minutos depois, o menino volta segurando a mão do seu pai, e propõe: Eu descerei para pegar a flor, se o meu pai segurar a corda.

Se o nosso Pai segurar a corda, poderemos escalar as perigosas montanhas. Podemos passar pelo vale da sombra morte, pois o Senhor é o nosso Pastor. Ele é a nossa segurança. Davi dizia: ainda que um exército se levante contra mim, eu confiarei no Senhor (Sl 27.3). Por que ele confiava no Senhor? Porque o Senhor era uma fortaleza para ele (Sl 27.1-2).

Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti. Isaías 26.3

Conclusão

Paulo disse: posso todas as coisas naquele que me fortalece (Fl 4.13). Paulo podia todas as coisas. Que coisas? Ele podia ter abundância, mas também podia ter fome; ele podia ter fartura, mas também podia ter escassez; ele podia ter a glória, mas podia ter a humilhação. Ele sabia viver bem em todas as situações. É isso o que ele afirma em Fl 4.11-12.

Alguém já disse que, quando entramos num ônibus, temos de confiar no motorista, porque é ele quem está no controle do veículo. Do mesmo modo, precisamos confiar no Senhor, porque ele está no comando da nossa vida. Eu diria que temos de confiar no Motorista do Universo. Não importa o tamanho do seu ônibus, se o motor se fundindo, ou se você não sabe os caminhos obscuros por onde esse ônibus terá de passar. Importa, sim, quem é o Motorista que você conhece, o Motorista que conhece você e seus temores, o Motorista que faz todas as coisas para o bem daqueles que o amam. Então descanse. Deite na poltrona da vida, e durma tranquilamente, sabendo que Ele é poderoso para guardar o seu tesouro até o dia final.

CONFISSÕES DE UM EX-CEGO – SOFRIMENTO E ESPERANÇA

Pr Luciano R. Peterlevitz – Missão Batista Vida Nova, 10/10/2010


Leia João 9.1-41


Introdução

Lemos no Evangelho de João 9 a cura de um cego de nascença. Será que ele havia perdido a esperança de cura?

No v.25, há uma confissão fantástica: “eu era cego e agora estou enxergando”. São palavras que testemunham o poder de Deus.


As causas do sofrimento

Qual é a causa do sofrimento? Esse é o cerne da questão levantada pelos discípulos, no v.2.

Os discípulos perguntavam sobre a causa do sofrimento. Mas não tinham uma palavra de esperança para as pessoas que sofriam. Assim também hoje. Muitos perguntam sobre a razão do sofrimento. Mas não encontram esperança.

Acreditava-se equivocadamente que todo sofrimento era resultado de algum pecado pessoal, ou era resultado do pecado dos pais (maldição hereditária). Mas Jesus afirma que a razão da cegueira daquele homem não poderia ser procurada em alguma ação pecaminosa no passado. Não! Aquele homem era cego de nascença para que as obras de Deus fossem manifestas (v.3). Ou seja, aquele homem nasceu cego para que pudesse ser curado por Cristo, e dessa forma manifestar o poder de Deus.

Mas não podemos encontrar a razão do sofrimento humano em único texto. Explicar porque sofremos requer muitas respostas.

Há inúmeras causas do sofrimento:

1) Escolhas erradas

2) Pecado (aqui a resposta é bastante diversificada): pecado contra Deus; pecado contra o próximo (construção de estruturas sociais injustas); pecado contra a natureza (poluição).

Certamente não podemos culpar Deus pela existência do sofrimento.

O sofrimento é inevitável. Ele vem. Culpar Deus é a mesma coisa que culpar o arquiteto que construiu a casa onde moro, se minha vida familiar estiver ruim. O arquiteto fez a casa. Nós fazemos o lar. Deus fez o mundo e a Bíblia diz que o mundo é bom. Nós deveríamos fazer o lar. Trouxemos o pecado e suas seqüelas, entre elas a morte para o bom lar de Deus. Mas evitemos as respostas teológicas. Elas servem para as mentes, mas nem sempre para o coração. Isaltino Gomes Coelho Filho.


A esperança

A esperança é Jesus. Não há dúvida! Ao encontrar o Senhor, o cego foi transformado. Ele não somente foi curado, mas deixou de ser mendigo (v.8-9). A restauração é integral.

É engraçado que, após a cura do cego, o foco do texto não é a beleza da nova vida daquele homem. Antes, focalizam-se as inúmeras discussões que se seguiram à cura (veja os versos 8-27). Esse homem é aquele cego-mendigo? Quem o curou? Por que curou? Como o curou? Pode um ‘pecador’ (alguém que não ‘guarda o sábado) curar alguém? Todas essas perguntas foram cabalmente respondidas pelo ex-cego: “Uma coisa sei: eu era cego, e agora estou enxergando!” (v.25).

A esperança não pode ser encontrada numa confissão religiosa ou num dogma. Alias, o dogmatismo religioso é mais responsável pela morte da esperança do que pelo seu renascimento. Os fariseus achavam que Jesus era pecador, por que ‘trabalhou’ no sábado. Para eles, aquele cego não poderia ser curado, muito menos por homem como Jesus. Mas, na verdade, aqueles religiosos estavam cegos: v.39-41.


A nova vida

O ex-cego se tornou discípulo de Jesus: v.28, 35-38. Somente no v.35 o ex-cego verá Jesus pela primeira vez. Antes, aquele que o curou era “o homem que chama Jesus” (v.11). Agora, esse homem é reconhecidamente o “Senhor”. O ex-cego creu no Filho do Homem. Adorou-O (v.38).

É interessante a ocasião desse segundo diálogo entre Jesus e aquele homem. O Senhor ficou sabendo que aquele homem havia sido expulso pelos judeus (v.35). Se anteriormente Cristo foi ao encontro dele para curá-lo, agora vai ao seu encontro para acolhê-lo. Antes Jesus foi ao encontro de um cego. Agora vai ao encontro de um abandonado. Nesse cenário está o discurso de Jesus em João 10.1-16, onde Ele se refere ao “rebanho” (10.16). Certamente o ex-cego e ex-mendigo, e também abandonado pela religião judaica, a partir de agora faria parte do rebanho de Cristo.

Àqueles que encontraram a esperança, resta apenas uma alternativa: seguir Jesus. Não se trata de seguir uma religião institucionalizada. Trata-se de seguir o Mestre do amor e seu exemplo de vida.

Alguém já disse: “Sabemos tudo sobre Bíblia, mas não conhecemos o Autor da Bíblia.” O mundo precisa desesperadamente dos exemplos de Jesus. Um filósofo disse: não sei o que é cristianismo. E apontando para um homem, afirmou: “mas sei o que é um cristão”. Cristianismo é vida com Deus.

Certa vez perguntaram a um estudioso da psicologia, Karl Yung, se ele acreditava em Deus. Ele respondeu: “Eu não creio em Deus. Eu conheço Deus.”

Pertencer ao rebanho de Cristo é seguir o Sumo Pastor, que é o próprio Cristo. É adorar a Jesus em nossa caminhada diária.

Esse conflito entre religião/dogma e vida com Deus é demonstra num relato de Paulo Brabo (o Paulo Purim), em um dos seus artigos:

Em janeiro de 1996 Walter Isaacson perguntou a Bill Gates a sua posição sobre espiritualidade e religião. Sua resposta entrará para os anais da infâmia – e não a dele. “Só em termos de alocação de recursos, a religião já não é coisa muito eficiente. Há muita coisa que eu poderia estar fazendo domingo de manhã”. Em resumo, o que dois mil anos de cristianismo institucional ensinaram ao homem mais antenado da terra é que religião é o que os cristãos fazem no domingo de manhã.
Só não ouse criticar o cara por sua visão rasa de espiritualidade. Fomos nós que demos essa impressão a ele, e só a nós cabe encontrar maneiras de provar que ele está errado.
Invente uma
.

Acho que encontramos uma boa resposta na confissão do ex-cego. Podemos confessar: Uma coisa sei: eu era cego, e não sou mais; era mendigo, e não sou mais. A desesperança não pode dar a última palavra. A esperança é Jesus. Andamos com ele e nele. Só Ele tem palavras de vida eterna. Vivemos num mundo quebrado e cego. Existem dogmas religiosos que cegam ainda mais. Há ideologias que oprimem. Mas o Senhor Jesus pode concertar tudo!