terça-feira, 26 de julho de 2011

Introdução ao Eclesiastes


Luciano R. Peterlevitz



INTRODUÇÃO

Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos são denominados de livros poéticos. Entretanto, dentre os poéticos do Antigo Testamento, Eclesiastes é bastante singular. Não encontramos nesse livro a paixão e dramaticidade de Jó; a súplica e o louvor, muito comuns nos Salmos, estão totalmente ausentes em Eclesiastes. A doutrina proverbial de Provérbios, representante da antiga sapiencialidade israelita, não faz parte do propósito do autor do livro. A ternura e o amor de Cântico dos Cânticos estão longe de atrair o escritor de Eclesiastes. Na verdade, na contemplação da fugacidade da vida, o livro assume tons bastante pessimistas.

Por meio de suas afirmativas um tanto céticas, e às vezes até contraditórias, o Eclesiastes propõe uma nova maneira de entender o significado da vida. Isso é muito significativo para a nossa contemporaneidade, que frustradamente busca pelo propósito da vida. Ed René Kivitz comenta, em um de seus livros, que em frente ao cemitério do Araçá, em São Paulo, alguém pichou: “Olhe ao redor. Estranho, né?”. Aquele grafiteiro não se referia à quietude do lado de dentro do muro, mas à turbulência e à agitação ao lado de fora. Queria respostas sobre o que todo mundo faz. As questões, para aquele grafiteiro, eram: Por que esta correria? Por que estamos vivos? Certamente o autor de Eclesiastes tem muito a dizer sobre essas questões. Pois o livro procura pelo sentido último da existência humana.


Leia o texto completo.



Davi: mais do que um vencedor


Pr Luciano R. Peterlevitz – Missão Batista Vida Nova, 24.07.2011. Culto dirigido pelos jovens.


Introdução

Davi e Golias. O jovem pastor x um gigante guerreiro. Vitória memorável de Davi. Uma história bem conhecida.

Mas por que Davi foi um vencedor?


Davi foi vencedor por causa de sua fé e coragem

A vitória de Davi: 1Sm 17.1-49.

A insignificância de Davi, aos olhos humanos: 1Sm 16.

Davi foi desprezado por seu pai. 1Sm 16.6-11. Davi era o mais novo de oito irmãos. Seus três irmãos mais velhos eram: Eliabe, o primogênito, Abinadabe e Samá (1Sm 16.6-9). Eram homens de guerra: 1Sm 17.13. Aos olhos humanos, eles eram muito mais qualificados do que Davi, o jovem pastor de ovelhas. Jessé não acreditava que Davi pudesse ser escolhido para alguma tarefa especial: 16.10.

2Sm 7.8. As ovelhas malhadas não tinham tanto valor comercial. Eram as menos importantes do rebanho. Davi era considerado por seu pai como o menor dentre todos os irmãos, e, por causa disso, a ele foi conferida a tarefa de cuidar das ovelhas insignificantes.

Davi foi desprezado por seus irmãos: 1Sm 17.28. Davi fora ungido rei por Samuel, diante dos olhos dos seus irmãos. Mas Eliabe não acreditava que o insignificante pastor um dia seria o rei de Israel. Entretanto, os três irmãos mais velhos de Davi, como os demais soldados de Israel, fugiam apavorados de Golias (1Sm 17.24).

Mas quem escolheu Davi? Não foi Jessé, ou seus irmãos, nem sequer Samuel. Davi foi escolhido pelo Senhor: Sl 89.20.

Davi foi desprezado por Golias: 1Sm 17.41-43. Mas Davi era corajoso. E o fundamento de sua coragem era sua fé no Deus vivo: 1Sm 17.44-47.

Davi foi desprezado por todos. Mas a sua fé no Deus Vivo fez a diferença, e lhe encorajou para enfrentar Golias. “pois a batalha é do Senhor”, dizia ele.

O que você faz quando as pessoas não acreditam no potencial que o Senhor lhe deu? O que você faz quando é desprezado? Quando as situações se agigantam contra sua vida, você exercita a fé no Deus Vivo?


Davi foi vencedor por que era um homem segundo o coração de Deus

1Sm 13.14 / 1Sm 16.7.

O maior gigante que Davi derrotou não foi Golias. O maior gigante que Davi derrotou foi seu próprio coração.

O Senhor viu o coração de Davi, por isso escolheu-o para ser rei de Israel. O Senhor não vê a aparência, como o homem vê. O Senhor olha para o coração. Isso não significa que a aparência não seja importante. Já vi muitas pessoas citando esse versículo para justificar as roubas escandalosas que usam. Entretanto, não leram 1Sm 16.18: Davi tinha “boa aparência”. O corpo veste o que o coração está cheio!

Curiosamente, ao longo das Escrituras, Davi não é lembrado por sua fabulosa vitória sobre Golias. Antes, o jovem pastor de Belém foi lembrado como um homem segundo o coração de Deus, como alguém que obedeceu ao Senhor. Ver 1Rs 15.5; Sl 89.20; Atos 13.22.

Jovem: como está o seu coração? Essa igreja pode efetuar muitas programações para os jovens. Mas é um equívoco acreditar que as programações atraem ou seguram os jovens na igreja. Saiba: se o seu coração não se dispuser a buscar ao Senhor, nenhuma programação trará você ao centro da vontade de Deus.


Conclusão

Por que Davi foi mais do que vencedor? Por que ele confiou no Deus Vivo, e sua coragem era a prova de sua confiança. Não adiante dizer que cremos se não temos coragem para enfrentar as situações. Mas, o mais importante: Davi foi mais do que vencedor por que era um homem segundo o coração de Deus. A despeito de suas limitações, Davi obedeceu fielmente o Senhor ao longo de sua vida. Siga o exemplo de Davi, e você não se arrependerá.

Eugene Peterson, sobre a história de Davi e Golias, comenta: “Durante toda a minha infância, sempre que minha mãe contava essa história, eu me tornava Davi. Eu sempre era Davi. Ainda sou.”

Você quer se tornar um Davi? Deus pode torná-lo um Davi, hoje.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Testemunhas de Jesus através da prática das boas obras



Pr. Luciano R. Peterlevitz - Oficina Temática no 62º Congresso da Associação Batista Leta do Brasil, em 09 de julho de 20011, das 14h30 às 16h:00, na PIB de Nova Odessa/SP.


Definições iniciais

Testemunhar de Jesus significa assumir o caráter ativo e prático da vida de Jesus. Isso significa ter misericórdia daquele que está caído no caminho, obedecendo assim à ordem de Jesus: “Vai e faze o mesmo” (Evangelho de Lucas 10.37).

A Igreja é continuadora da obra iniciada por Jesus. Esse é o tema do livro dos Atos dos Apóstolos. No poder do Espírito Santo, a Igreja testemunhava da obra de Jesus, obedecendo assim à ordenança do próprio Jesus (Atos 1.8). Testemunhar é a disposição em morrer por aquilo que viu e ouviu. O livro de Atos narra a vivência de cristãos dispostos a morrer por Jesus. Por que? Porque eles viram e/ou ouviram as obras de Jesus. E, na vivência da comunidade cristã, aqueles crentes assumiam para si o caráter prático da vida de Jesus. O que Jesus fez, agora eles faziam (veja At 2.45; 4.32-35!). Os cristãos da comunidade primitiva testemunhavam de Jesus e repartiam seus bens com os necessitados. Observa-se, pois, que o testemunho não estava dissociado da prática das boas obras. Os cristãos são cristãos na medida em que compõem uma comunidade de partilha.

Portanto, testemunhar de Jesus não significa somente passividade frente à possibilidade do mal. Testemunhar de Jesus significa fazer o bem.

Há um texto bíblico muito importante, a partir do qual construímos nossa afirmativa de que testemunhar de Jesus significa fazer o bem. Penso em 1Pe 2.11-12:


Amados, exorto-vos como a peregrinos e estrangeiros a vos absterdes dos desejos carnais, que combatem contra a alma. Seja correto o vosso procedimento entre os gentios, para que naquilo de que falam mal de vós, como se fôsseis praticantes do mal, ao observarem as vossas boas obras, glorifiquem já Deus no dia da visitação. (Almeida Século XXI).


Nesse texto encontramos um paradigma paradoxal. Pois se diz que, como cristãos, somos “peregrinos e estrangeiros”. Uma melhor tradução seria: “estrangeiros e viajantes”. Estrangeiros: pessoas estrangeiras que moram num país onde não possuem direitos plenos de cidadania. Viajante/peregrinos: são estrangeiros visitantes, não residentes. Os cristãos estão de passagem por esta terra (peregrinos), mas ainda habitam nessa terra (estrangeiros). O fato de sermos peregrinos não nos isenta das nossas responsabilidades aqui na terra. É o que afirma o v.12, com bastante propriedade: “ao observarem as vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação”. O verbo “observar” alude ao um período de observação e reflexão sobre o que viu.

Embora de passagem por esta terra, o peregrino habita nessa terra. O peregrino está passando por essa terra. Mas não é uma simples passagem. Pois, por onde passa, o peregrino deixa suas pegadas, que são semelhantes às pegadas de Cristo.


Perguntas para discussão:

1. Qual a diferença entre a prática de boas obras e o assistencialismo? Reflexão: assistencialismo é uma agenda. Boas obras é um estilo de vida.

2. Como fazer boas obras sem alinhar-se aos grupos políticos que beneficiam classes sociais?

3. Como vencer o ceticismo evangélico que se traduz por frases do tipo “boas obras é coisa para espírita ou católico”, ou, “precisamos evangelizar para salvar almas”?

4. Como fazer boas obras sem fazer proselitismo?


As boas obras como justiça social

Discutir o texto abaixo:

Se a situação histórica de dependência e dominação de dois terços da humanidade, com seus 30 milhões anuais de mortos de fome e desnutrição, não se converte no ponto de partida de qualquer teologia cristã hoje, mesmo nos países ricos e dominadores, a teologia cristã não poderá situar e concretizar historicamente seus temas fundamentais.

Hugo Assmann, Teologia desde la práxis de la liberacion – Ensayo teológico desde la América dependiente, 2ª edição, Salamanca, Sígueme, 1976, p.40.


Por uma análise geral da Bíblia, tendo por base principal os profetas, percebe-se que a fé vem acompanhada de uma prática social.

Ponto focal: a justiça social não é um aspecto da teología dos profetas. É, antes, o fundamento dos seus livros.

Em Miquéias 6.8 encontramos um bom resumo da mensagem dos profetas: Ó homem, o Senhor te declarou o que é bom. Por acaso o Senhor exige de ti alguma coisa além disto: que pratiques a justiça, ames a misericordia e andes em humildade com o teu Deus? (Almeida Século XXI). Segundo este profeta, a prática da justiça social é o culto que Deus requer! É por isso que Jesus é o Profeta. Porque a sua vida foi uma demonstração pública das palavras de Miquéias.


Pergunta para discussão:

1. Num país tão arrasado como o Haíti, o que é mais importante: construir templos ou hospitais/escolas? (O Álvaro R. Alkschbirs, um dos integrantes da Oficina Temática, propôs a seguinte pergunta: “Se você tivesse bastante dinheiro, e pudesse sustentar financeiramente um voluntário no Haiti, qual destes você enviaria: um missionário cristão para pregar a Palavra, ou um médico não cristão, para socorrer os vitimados e doentes? Você só teria esses dois voluntários, e teria de escolher um deles.").


Conclusão

Boas obras não são uma programação agendada. Boas obras são um estilo de vida. A prática das boas obras incorpora a luta contra as injustiças sociais. Boas obras são ações concretas, efetivadas na sociedade, contributivas à dignidade da vida planetária. É precisamente pela práxis social de sua mensagem que a Igreja testemunha eficazmente de Jesus, no poder do Espírito Santo.

Há muitos textos bíblicos fundantes da afirmativa defendida na presente reflexão. Eis alguns:

Tiago 4.17: Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e ano o faz, comete pecado.

Jeremias 22.16: Ele praticou o direito e a justiça! E corria tudo bem para ele! Ele julgou a causa do pobre e do indigente. Então tudo corria bem. Não é isto conhecer-me?

1João 2.29: Se sabeis que ele é justo, reconhecei que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele.

Não somos salvos pelas obras, mas salvos para as obras: veja Efésios 2.10.


Desafios:

A Igreja é uma agência do Reino de Deus. Isso significa que:

1. A Igreja precisa interferir na redução da pobreza.

2. A Igreja precisa lutar pela erradicação de todo tipo de escravidão contemporânea (trabalhos opressores: salários injustos; trabalho infantil, etc...).

3. A Igreja precisa lutar pela vida plena, a que todo ser humano ter direito.

4. A Igreja como agência do Reino de Deus é uma comunidade que protesta contra toda forma de violência.



A igreja é a única organização que existe primariamente para benefício dos não-membros – C. S. Lewis.



sexta-feira, 15 de julho de 2011

Deus no Profano


Luciano R. Peterlevitz


Era quinta feira, véspera da morte de Jesus. Antes de morrer, o Senhor se reúne com os doze homens, com os quais compartilhou sua vida durante aproximadamente três anos. Reunidos, sentam-se à mesa. Comem juntos. Era um jantar. Um momento informal, um jantar destinado a se tornar o memorial do cristianismo. O texto bíblico simplesmente diz que eles sentaram e comeram. Sabemos que a ceia judaica era um jantar, à semelhança dos nossos jantaras, quando nos assentamos com as pessoas queridas e compartilhamos com elas as nossas vidas.

Para aquele momento, não ensaiaram nenhum hino. Não preparam nenhuma ordem de culto. Não vestiram roupas novas, ou ‘roupas de igreja’. Não havia grupo de louvor, nem coral. Tampouco havia bancos, nem púlpito (ou, como preferem alguns, “tribuna”).

Simplesmente sentaram-se para comer. E ali, naquele momento informal, Jesus diz que o vinho que bebiam era seu sangue, e o pão que comiam era o seu corpo. A seguir, cantaram um hino.

Mas eis a questão: aquele momento ‘sagrado’ era um momento profano. Uma janta! Não era um ‘culto’. Não foi oficiado num lugar sagrado.

A religião afirma que o sagrado não se concilia com o cotidiano. Segundo as Ciências da Religião, o sagrado é o anormal, especial, do outro mundo, o tabu. Já o profano seria o normal, quotidiano, deste mundo, plebeu e permitido. O que há de característico nas grandes religiões mundiais é que todas elas articulam seus símbolos a partir de duas dimensões: a sagrada e a profana. Elas veneram Deus/deus num altar, num espaço sagrado. O ofertante vai a algum lugar, e ali oferece algo à divindade. O altar é sagrado. Ali o religioso está numa outra dimensão, a sagrada, e é ali, tão somente ali, que ele experimenta o divino. Quando termina de ofertar, o ofertante deixa deus no altar para seguir sua caminhada cotidiana e profana. A caminhada profana é uma coisa. O altar e o deus do/no altar é outra. Assim, o sagrado é a dimensão da experiência religiosa.

Nessa perspectiva, o profano é o mundo em que vivemos. O mundo ou o cotidiano no qual vivemos é, na ótica das religiões, banal e inferior em relação ao sagrado.

Mas Jesus propõe uma relação totalmente radical com o verdadeiro Deus. O momento mais sagrado do cristianismo é Ceia do Senhor. E essa originalmente foi uma janta! Pois comer é compartilhar. Aliais, o verbo “comer”, em português, resulta da combinação do verbo latim edere, em que ed é o radical, e o prefixo cum que significa companhia. Assim ‘comer’ evoca companhia. É a idéia de comunhão. Essa é a proposta da Ceia do Senhor, ou seja, o partilhar de um mesmo pão e um mesmo vinho! O esse momento ‘sagrado’ se consumou num momento ‘profano’, numa janta.

Qual a conclusão de tudo isso? Ora, no cristianismo não existe “momentos espirituais”. A espiritualidade é a vida! A espiritualidade não se manifesta num determinado dia e lugar. Aliás, a espiritualidade não é algo desassociado da existência cotidiana ou ‘profana’. No cristianismo, o templo não é um lugar. O templo somos nós mesmos. Mas infelizmente as pessoas associam o culto cristão ao culto pagão. Acham que podem encontrar Deus numa determinada hora e lugar, num espaço sagrado. E após esse ‘momento espiritual’, deixam Deus sobre o altar e seguem sua caminhada cotidiana.

Mas Deus não está num determinado lugar. Ele está em nossas vidas. O altar não é algo. O altar é alguém! O altar sagrado são as nossas vidas. A espiritualidade é a manifestação do nosso ser, no cotidiano.

Deus não mendiga o nosso ‘culto’. Ele não quer ‘algo’ de nós num determinado dia e lugar. Ele nos quer todo dia, o dia todo, e em todo lugar.

Quando esteve aqui, o lugar que Jesus menos freqüentou foi templo. Preferiu os desprestigiados da sociedade. Por isso foi chamado de ‘glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!” (Mt 10.19). Esteve no profano. Manifestou Deus no profano. Portanto, agredindo os preconceitos religiosos das religiões, está a afirmativa cristã de que Deus está no profano.

Nossas experiências cotidianas são tão sagradas quanto aquilo que hoje em dia chamamos de ‘culto’. Não me entendam mal. Não estou depreciando a importância da reunião cristã de adoração. Estou questionando se esse momento é o momento espiritual. Pois, à luz da primeira Ceia do Senhor, percebe-se que ao redor de uma mesa, enquanto tomamos em café ou chá, conversando, contando piadas, trocando idéias, ali, experimentamos Deus. Ali, quando choramos ou rimos juntos, com alguém que precisa do nosso choro ou do nosso riso. Nessas experiências ‘profanas’ (cotidianas) experimentamos Deus. Pois creio que Deus no ali e no aqui. Ele está no profano! Graças a Deus!