segunda-feira, 12 de julho de 2010

O MESMO SENTIMENTO QUE HOUVE EM JESUS CRISTO

Pr Luciano R. Peterlevitz

Filipenses 2.5-11:

5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, 6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; 7 antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, 8 a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. 9 Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.


I. INTRODUÇÃO – A EPÍSTOLA AOS FILIPENSES

1. A igreja de Filipos foi plantada por Paulo por ocasião de sua segunda viagem missionária (At 16.6-40), em aproximadamente 50 d.C. Foi a primeira igreja em solo europeu. Paulo ainda visitou aquela igreja em outras duas ocasiões (At 20.2,6), criando assim profundos laços afetivos com ela. Por isso, a epístola aos filipenses, juntamente com a de Filemom, é a carta mais pessoal de Paulo.
2. Uns 10 anos depois da fundação da igreja de Filipos, por volta de 60 d.C., Paulo foi preso em Roma (At 28.30), onde anunciava o Evangelho mediante as cadeias (1.13). Nesse contexto, a igreja de Filipos enviou uma oferta por intermédio de Epafrotito (4.18). Então Paulo escreve esta epístola aos filipenses, para lhes agradecer a oferta enviada.
3. Acontece que, naquela ocasião, Epafrodito relatou a Paulo algumas coisas que estavam acontecendo na igreja de Filipos, dentre as quais, as rixas e discórdias existentes naquela comunidade (2.3-4), sobretudo entre duas mulheres: Evódia e Síntique (4.2).
4. Enquanto Paulo estava preso por amor ao Evangelho, alguns crentes de Filipos se devoravam com discussões tolas, e faziam a obra do Senhor por vanglória ou partidarismo. Isso ainda acontece hoje. Há tanto o que ser feito. Há tantas pessoas para serem evangelizadas. Ainda que muitos se entreguem completamente ao Evangelho, como Paulo, há outros que estão sempre causando intrigas e se preocupando com mesquinharias.
5. Epafrodito adoeceu gravemente quando estava em Roma (2.27). Depois de se recuperar, ele foi enviado por Paulo a Filipos, com uma carta, na qual os filipenses leriam os agradecimentos de Paulo pela oferta, bem como algumas recomendações em relação aos problemas daquela comunidade. Esta é a carta aos Filipenses.

II. O EXEMPLO DE CRISTO
1. O ponto alto da epístola é 2.5-11. Lemos aí uma das passagens mais doutrinárias do Novo Testamento, na qual Paulo expõe a doutrina da kenosis: a auto-humilhação ou o auto-esvaziamento de Cristo: v.7. Cristo, sendo Deus, tendo a mesma natureza e os mesmos atributos de Deus, não se considerou como Deus (v.6). Este verso diz que Cristo não teve “usurpação de ser igual a Deus”, ou seja, Ele não considerou sua igualdade com Deus como uma oportunidade para agir de forma egoísta e reter tudo para si. Como diz Ralph Martin, “em vez de imaginar que igualdade com Deus significa obter, ao contrário Ele deu – deu até tornar-se vazio.” Alguém já disse que Cristo não tinha nada, exceto sua vida, e ainda assim a compartilhou conosco. Deu tudo o que tinha.
2. Cristo apresentou-se como servo (v.7). Ele tinha a “forma” de Deus, mas se apresentou em “figura humana”. Ele, que tinha toda a glória nas mãos, abdicou de toda glória e humilhou-se a si mesmo, experimentando a mais terrível morte, a morte de cruz (v.8). Isso não significa que Cristo deixou de ser Deus, mas sim, que Ele assumiu a limitação humana. Como diz Charles C. Ryrie, “Ele era inteiramente Deus e verdadeiramente homem”.
3. Cristo tinha o poder para julgar, mas liberou perdão. Ele é o Senhor, mas se portou como um escravo. Cristo abriu mão dos seus direitos. Renunciou todas as riquezas (2Co 8.9) e sua própria vida (Jo 10.18).

III. AS IMPLICAÇÕES DO EXEMPLO DE CRISTO
1. O mais impressionante nessa passagem é o v.5. Percebe-se que esse texto foi escrito para persuadir os crentes à prática da unidade e do amor fraternal.
2. O próprio Paulo era o exemplo de alguém que considerou “tudo como perda” (3.8). Ele estava preso em Roma, mas não se preocupava só consigo mesmo. Seu coração estava na obra e na igreja de Filipos. Ele se preocupava em instruir aqueles irmãos, mesmo estando numa cela.
3. Então, o apóstolo convoca os crentes a pensarem a “mesma coisa” (2.2). “Aqui se trata do ‘pensamento’ que conduziu o Filho de Deus do trono da glória para a vergonha da morte na cruz” (Hernandes Dias Lopes). O “pensamento” não é o intelecto, mas uma ação. A idéia é que os crentes devem pensar como Cristo pensou, imitando a sua atitude descrita nos v.5-11.
4. Nós sempre agimos pensando em nossos direitos. Temos a tendência de colocar o ego em primeiro lugar. Mas será que somos capazes de abrir mão dos nossos direitos, como Cristo, e liberar o perdão e o amor incondicionais?
5. Cristo assumiu o nosso erro. Será que podemos seguir o exemplo de Cristo? Quando somos feridos, acreditamos que o agressor deve vir pedir-nos perdão. Agimos na perspectiva da lei. Mas porque não agir na perspectiva da graça? Teríamos a coragem de chegar a alguém que nos feriu, e pedir perdão, mesmo que estejamos certos e o outro errado?
6. Nós sempre gostamos de vencer uma discussão. Queremos ter razão. Teríamos coragem de por algum momento abrir mão de nossa razão, de nosso censo de justiça própria, e dizer que o outro tem razão? Mesmo que tenhamos a razão ou a verdade em nossa mão, por que não abrir mão disso por amor a Cristo, por amor ao outro e à comunidade?
7. Será que conseguimos considerar o outro superior a nós mesmos (2.3)?
8. Precisamos viver Cristo (1.21). Devemos não só imitar Cristo, mas viver em Cristo. E quando isso acontece, vamos viver em união uns com os outros. William Barcley disse que ninguém pode viver em união com Cristo e ao mesmo tempo viver em desunião com seu semelhante. É assim que Paulo exorta os crentes de Filipos a trabalharem “juntos pela fé evangélica” (1.27). “A obra de Deus não pode avançar quando cada um puxa para um lado, quando cada um busca mais seus interesses do que a glória de Cristo. Na igreja de Filipos, havia ações desordenadas. Eles estavam lutando pelo evangelho, mas não juntos” (Hernandes Dias Lopes).
9. Alguém já disse que a igreja é um coro cujos integrantes cantam num mesmo tom. O som fica desagradável quando alguém insiste em cantar em outro tom. Talvez você possa até achar que o tom que você está cantando é o correto. Mas quando a comunidade canta em um tom, abra mão daquele que aos seus olhos é o correto. Caso contrário, o som será desagradável, e a união se perderá.

CONCLUSÃO
1. Paulo expõe sua alegria pela igreja de Filipos (4.1,10). Mas ele pede para os irmãos completarem sua alegria (2.2), através da prática do amor fraternal e da unidade. Se Paulo escrevesse hoje, com certeza diria a mesma coisa para nossa igreja.
2. F.F Bruce diz que o exemplo de Cristo deve ser seguido, e quando isso acontecer, nós teremos maior interesse nos direitos dos outros e em nossos próprios deveres do que em nossos próprios direitos e nos deveres dos outros. Mas nossa tendência é cuidar dos nossos direitos e dos deveres dos outros para conosco. Mas somos surpreendidos com o exemplo de Cristo; somos instigados a nos preocuparmos mais com nossos deveres e com os direitos do próximo.
3. Esse é o desejo do coração de Deus: que o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, haja em nós também.

domingo, 4 de julho de 2010

ORAÇÃO PURITANA

Somos constantemente tentados a controlar as circunstâncias que nos cercam, com a justificativa de que algumas delas ameaçam a nossa paz. Ambicionamos manobrar as situações, para nosso próprio bem. Mas felizmente não podemos. Não estamos no controle das nossas vidas. Por mais que ambicionamos assenhorar-se do nosso destino, não conseguimos. Em meio às tempestades, precisamos confiar no Senhor que controla as tempestades. Portanto, resta-nos essa oração puritana (Citada por Charles Swindoll. Jó – Um homem de tolerância heróica. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p.323-324 (Série heróis da fé):

Quando queres guiar-me, controlo a mim mesmo,

Quando queres se soberano, governo a mim mesmo.

Quando queres cuidar de mim, sou auto-suficiente,

Quando deveria depender da tua provisão, abasteço a mim mesmo.

Quando deveria submeter-me à tua providência, sigo a minha vontade,

Quando deveria estudar, amar, honrar, confiar em ti, sirvo a mim mesmo;

Negligencio e corrijo tuas leis conforme as minhas conveniências;

Em lugar da tua quero a aprovação do homem, e sou por natureza um idólatra.

Senhor, meu principal objetivo é voltar meu coração novamente para ti.

Convence-me de que não posso ser meu próprio Deus, ou fazer feliz a mim mesmo, nem meu próprio Cristo para restaurar a minha alegria, nem meu próprio Espírito para ensinar, guiar controlar a mim mesmo.

Ajuda-me a ver que a graça faz isto mediante a aflição providencial, pois quando o meu deus é o meu crédito, tu me humilhas; quando as riquezas são o meu ídolo, tu as dispersas; quando o prazer é meu tudo, tu o transformas em amargura.

Remove o meu olhar cobiçoso, ouvido curioso, apetite voraz, coração lascivo;
Mostra-me que nenhuma dessas coisas pode curar uma consciência ferida, ou suportar uma estrutura arruinada, ou apoiar um espírito que se afasta.

Leva-me então à cruz e deixe-me nela.