terça-feira, 28 de junho de 2011

Introdução ao livro de Jó


Luciano R. Peterlevitz


É curioso que, em nossas Bíblias, o livro de Jó vem imediatamente após Ester.[1] Parece que há um sentido nessa ordem. Em Ester, Deus não é mencionado. Permanece oculto. Em Jó, Deus é mencionado no início do livro, mas permanece oculto durante o debate entre Jó e seus amigos, manifestando-se somente no final da obra. Ora, se em Ester Deus parece não agir, em Jó Ele demora a agir. Mas o princípio permanece: mesmo quando parece que Deus está ausente, na verdade, Ele está presente na entrelinhas da história (Ester); e mesmo quando parece que Ele demora a intervir no sofrimento humano, Ele certamente o fará (Jó). Mas, a despeito da ação divina do fim do livro de Jó, permanece suspensa a dúvida sobre a razão do sofrimento do justo. Na verdade, se evidenciará que o livro de Jó caminha pelos mistérios do agir divino. Pela experiência de Jó, aprendemos que o agir de Deus transcende a rotina sugerida por teologias ou ideologias humanas.


A grande pergunta do livro de Jó é: Por que o justo sofre? A partir desta, surgem outras questões: o sofrimento do justo seria uma prova da injustiça divina? Todo sofrimento é resultado de algum pecado? Por que os ímpios prosperam? Então, na tentativa de entender o sofrimento, muitas respostas vão aparecer no livro, da boca dos amigos de Jó e do próprio Jó. Será que tais respostas são falsas ou verdadeiras? Caminharemos com Jó, para juntos entendermos o propósito divino do sofrimento.


Leia o texto completo.


[1] Na Bíblia Hebraica, o livro de Jó segue o livro dos Salmos.

As cantigas e a paz no coração


Luciano R. Peterlevitz


Salmo 13.6: Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.

Não. Não quero falar dos cântico no ‘momento de louvor’ dos nossos cultos ou sobre a importância de cantarmos ‘de coração’, ou sobre a importância de cantarmos uma canção cuja letra seja teologicamente correta. Quero levar você a refletir sobre outro aspecto do cântico.


Sabe aquelas cantigas que eu e você entoamos quando estamos envolvido em algum tarefa em casa? Ou aquelas músicas que entoamos enquanto dirigimos? Ou aquela canção catarolada que mais se parecem um bulbuciar? Sabe aquele momento em que você é pego de surpreda cantando alguma canção cuja letra não lhe vem à memória, mas somente a melodia, e você diz ‘hum, hum’, ou ‘lá, lá...’? Ou mesmo aquele assovio descontraído? Ora, essas canções são entoadas em momentos em que o nosso coração está descansando. Não se trata de mera distração. Essas cantigas refletem o estado da nossa alma. Quando estamos livres da ansiedade e do medo conseguimos cantarolar. Nosso lábios expressam o que está em nossos corações. Já percebeu que quando estamos apreensimos e preocupados não conseguimos cantarolar ou assoviar uma canção? Portanto, quando se você for pego de surpresa cantando uma letra que você nem lembra direito, saiba: seu coração está trânquilo e quieto. Mas se já faz algum tempo que você não consegue cantar ou assoviar alguma canção, então busque refúgio no Senhor e peça para ele libertar-lhe do medo e da ensiedade.


sexta-feira, 24 de junho de 2011

Coração de Estudante

Milton Nascimento

Composição: Wagner Tiso / Milton Nascimento


Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda
Deve estar dentro do peito
Ou caminha pelo ar
Pode estar aqui do lado
Bem mais perto que pensamos
A folha da juventude
É o nome certo desse amor


Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora, cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê
Flor flor o o e fruto


Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração,
Juventude e fé.


Ouça a música.

A Ética segundo Paulo Freire

Algumas reflexões sobre a ética, por Paulo Freire:


“...falsear a verdade, iludir o incauto, golpear o fraco e indefeso, soterrar o sonho e a utopia, prometer sabendo que não cumprirá a promessa, testemunhar mentirosamente, falar mal dos outros pelo gosto de falar mal. A ética de que falo é a que se sabe traída e negada nos comportamentos grosseiramente imorais como na perversão hipócrita da pureza em puritanismo. A ética de que falo é a que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe. É esta ética inseparável da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que devemos lutar.” (p.17).

“Se sou puro produto da determinação genética ou cultural ou de classe, sou irresponsável pelo que falo no mover-me no mundo e se careço de responsabilidade não posso falar de ética. Isso não significar negar os condicionamentos genéticos, culturais, sociais a que estamos submetidos. Significa reconhecer que somos seres condicionados mas não determinados. Reconhecer que a História é tempo de possibilidade e não de determinismo, que o futuro, permita-se-me reiterar, é problemático e não inexorável.” (.21).



Paulo Freire, Pedagogia do oprimido – Saberes necessários à prática educativo, 13ª edição, São Paulo, Paz e Terra, 1996 [Coleção Leitura]


terça-feira, 21 de junho de 2011

Um sonho chamado 'Igreja'


Pr Luciano R. Peterlevitz – Missão Batista Vida Nova, 19.06.2011


Introdução

Alguém já disse que não existe igreja perfeita. Isso é verdade. “Se você encontrar uma igreja perfeita, não entre nela. Você vai estragá-la.” Howard Hendricks

Mas precisamos sonhar que seremos melhores. Não podemos deixar de lutar pela Igreja idealizada nas Escrituras.

“Eu tenho um sonho”. Esta é a famosa frase de Martin Luther King, pastor batista que morreu pela luta dos direitos humanos, em especial pela direito dos negros à dignidade.

Utopia: grego ou-topos, “não-lugar” ou “lugar nenhum”. "A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar"

(Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio).

Utopia é a caminhada constante e inacabada. É a linha do horizonte que motiva a caminhada.

“Ao erguermos a vista não vemos fronteiras.” Ditado japonês.

“A tragédia não é quando um homem morre; a tragédia é aquilo que morre dentro de um homem enquanto ele ainda está vivo” (Albert Schweitzer).

Quando falamos de Igreja, qual deve ser nossa utopia? Há ser esta: A igreja é uma extensão da encarnação de Cristo. Palavra/logos: Cristo encarnado. Cristãos são pequenos cristos. Jesus sinalizou a chegada do reino de Deus. Assim também, a Igreja é uma agência do Reino. Sonho com uma igreja que seja a extensão da encarnação de Cristo. Explico.


1. Uma Igreja que encarna a Palavra de Deus

A Igreja é a extensão da encarnação de Cristo na medida em que ela, como Cristo, conhece a Palavra de Deus e encarna/aplica essa palavra em sua própria vivência.

Jesus conhecia a Bíblia Hebraica muito mais do que os doutores da Lei. Imagine o menino Jesus, com seus doze anos, dando um nó na cabeça dos doutores, com perguntas difíceis. Jesus combateu Satanás citando as Escrituras sagradas: Mt 4.

Josué 1.8: Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido. (ARA)

Evangelho de João 5.39: Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. (ARA)

Isso é utopia: todos os crentes estudando e conhecendo em profundidade as Escrituras. Mas esse é o meu sonho de Igreja: E perseveravam no ensino dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. (Atos 2.42 – ARA)

Você, cristão, conhece as Escrituras? Você está preparado para responder a todo aquele que pedir a razão da esperança que há em você?

“Prefiro falar de teologia bíblica às paredes do que falar de ideologia humana às multidões”.

Sonho com uma Igreja que construa estruturas facilitadoras do ensino bíblico (EBD; estudos em grupos pequenos; cursos; etc...). Você quer fazer parte dessa comunidade? Então dê o primeiro passo: comprometa-se com as Escrituras.


2. Uma igreja humana

A Igreja é a extensão da encarnação de Cristo na medida em que ela, como Cristo, representa a nova humanidade à imagem e semelhança de Deus.

Romanos 8.29: Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (ARA)

Normalmente quando falamos em humanidade pensamos em imperfeição. As pessoas, quando querem se justificar de um erro, dizem: também sou humano. Entretanto, na Bíblia, a humanidade (o ‘homem’, o adam) é a humanidade criada à imagem e semelhança de Deus. Você não foi criado para ser representante da imperfeição. Mas também você não foi criado para ser anjo, para ter asas e um anel brilhoso sobre a cabeça. Você foi criado para ser gente. E a igreja é o lugar de gente.

A Igreja precisa tratar as pessoas como pessoas. Uma alma vale mais do que o mundo inteiro. Nesse sentido, qual é o grande desafio da Igreja?

1. Amar mais os seres humanos do que as coisas. Vivemos numa sociedade que fundamenta suas relações pelo potencial mercadológico. O que manda é o capital, a possibilidade de ascensão social, o lucro. Há uma ‘coisificação’ do ser humano. O ser humano, a imagem de Deus, torna-se a imagem da ‘coisa’. Bem disse o teólogo John Pawel: “Deus nos deu as coisas para usar e as pessoas para amar e não seu contrário, usar as pessoas e amar as coisas”. Mas, alguém já disse que podemos parafrasear a famosa frase de Descartes, “Consumo, logo existo”.

2. Conviver com as opiniões contrárias sem concordar com elas. Essa afirmativa pode ser exemplificada pela guerra entre religião e homossexualismo. Vejo que discordância e diálogo podem caminhar juntos. Sigo a proposta de Marcelo Gomes, pastor da 1ª IPI de Maringá. Homofobia, do grego “homo” (igual) e “fobia” (medo), significa, literalmente, “aversão, medo ou ódio em relação ao homossexual”. Nesse sentido, como cristãos, não podemos ser homofóbicos. Não podemos ter medo ou ódio dos homossexuais. Propõe-se, então, o uso do termo Homodiafonia, do grego “homo” (igual) e “diafonia” (dois sons distintos, dissonância, discordância). Significa, literalmente, discordância da opção homossexual. Nosso desafio discordar da opção homossexual sem desprezá-los como seres humanos e cidadãos.

A igreja precisa acolher todas as pessoas. Lembro-me de uma palestra do pr. Estevam Fernandes, pastor da Primeira Igreja Batista em João Pessoa, em 03/01/2007. Estevam afirmou que em sua igreja existe um ministério para divorciados e viúvas. “Nossa igreja não exclui essas pessoas, mas cuida delas. Elas fazem parte da história da nossa igreja.”

A Igreja, como o Corpo de Cristo, como extensão da encarnação de Cristo, há de lutar pelo valor e dignidade da vida humana. Não foi por coisas ou por ideologias que Jesus morreu. Ele morreu por pessoas, por gente de carne e osso.


3. Uma igreja unida num mesmo pensamento

Filipenses 2.2-5: Completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. 3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. 4 Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... (ARA)

A vida da comunidade é extremamente perigosa. Pois os crentes farpeiam-se mutuamente: Fl 4.2. Digladiam-se por mesquinharias.

Em Fl 2.5-11 Paulo expõe a doutrina da kenosis: a auto-humilhação ou o auto-esvaziamento de Cristo. Essa doutrina é fator regular dos relacionamentos na Igreja.

Fl 2.2: “tenhais o mesmo modo de pensar”. Não se trata de uniformidade de opiniões. Antes, significa que todas as opiniões devem se submeter ao exemplo de Cristo.

Somos surpreendidos com o exemplo de Cristo, porque Ele abriu mão de tudo o que era e de tudo o que tinha.

Gostamos de pensar em nossos direitos. Gostamos de achar que sempre temos a razão em nossas mãos. Gostamos de vencer uma discussão. Gostamos que nossas preferências pessoais prevaleçam.

Já vi muitos crentes deixando suas igrejas porque a igreja não acatou uma opinião pessoal deles. Mas, saber conviver com opiniões contrárias é uma prova de maturidade.

Somos surpreendidos com o exemplo de Cristo, porque Ele sendo o Senhor, fez-se servo.

Alguém já disse que pecado é “auto-coroação”. É a monarquia do egoísmo. A serpente propôs enganosamente tornar o homem como Deus. Evangelho propõe tornar Deus como homem.

Por que nos magoamos quando somos criticados? Não é porque queremos ser elogiados? Não é porque buscamos os primeiros lugares?

Será que nos esquecemos que somos simplesmente servos?

Sensibilidade da Minosa pudica (dormideira): quando tocada, sempre se fecha.

Alguém disse: “Sou pastor, e por isso devo ser tratado com proeminência.” Mas, como salientou Glenio Fonseca Paranaguá, “o espelho nunca chama atenção para si mesmo, a não que esteja sujo.

*Lembro-me de um acampamento de jovens, que eu participei quando adolescente. Um pastor, preletor do retiro, que queria dormir na cama porque era pastor.

"A igreja é a única organização que existe primariamente para benefício dos não-membros” C. S. Lewis

A Igreja é a extensão da encarnação de Cristo na medida em que ela, como Cristo, vive menos para si e mais para os outros. Seus membros pensam do ‘mesmo modo’, ou seja, todos tem a consciência de que são chamados para ser servos uns dos outros.


Conclusão

A grande maravilha do cristianismo não é o fato de entregarmos nossa vida a Jesus e compartilharmos tudo o que somos com Ele. A grande maravilha é o fato de Jesus entregar sua vida por nós e compartilhar conosco tudo o que Ele é. Isso é Igreja: é a comunidade que reflete o rosto de Jesus.

Vale à pena sonhar e lutar para que a Cristo seja efetivamente o Corpo de Cristo nessa terra. Convido você a ser parte integrante dessa comunidade. Convido você viver essa utopia.

“Rejeitei a igreja durante algum tempo porque encontrei bem pouca graça ali. Voltei porque não descobri graça em nenhum lugar.”
Phillip Yancey