segunda-feira, 18 de julho de 2011

Testemunhas de Jesus através da prática das boas obras



Pr. Luciano R. Peterlevitz - Oficina Temática no 62º Congresso da Associação Batista Leta do Brasil, em 09 de julho de 20011, das 14h30 às 16h:00, na PIB de Nova Odessa/SP.


Definições iniciais

Testemunhar de Jesus significa assumir o caráter ativo e prático da vida de Jesus. Isso significa ter misericórdia daquele que está caído no caminho, obedecendo assim à ordem de Jesus: “Vai e faze o mesmo” (Evangelho de Lucas 10.37).

A Igreja é continuadora da obra iniciada por Jesus. Esse é o tema do livro dos Atos dos Apóstolos. No poder do Espírito Santo, a Igreja testemunhava da obra de Jesus, obedecendo assim à ordenança do próprio Jesus (Atos 1.8). Testemunhar é a disposição em morrer por aquilo que viu e ouviu. O livro de Atos narra a vivência de cristãos dispostos a morrer por Jesus. Por que? Porque eles viram e/ou ouviram as obras de Jesus. E, na vivência da comunidade cristã, aqueles crentes assumiam para si o caráter prático da vida de Jesus. O que Jesus fez, agora eles faziam (veja At 2.45; 4.32-35!). Os cristãos da comunidade primitiva testemunhavam de Jesus e repartiam seus bens com os necessitados. Observa-se, pois, que o testemunho não estava dissociado da prática das boas obras. Os cristãos são cristãos na medida em que compõem uma comunidade de partilha.

Portanto, testemunhar de Jesus não significa somente passividade frente à possibilidade do mal. Testemunhar de Jesus significa fazer o bem.

Há um texto bíblico muito importante, a partir do qual construímos nossa afirmativa de que testemunhar de Jesus significa fazer o bem. Penso em 1Pe 2.11-12:


Amados, exorto-vos como a peregrinos e estrangeiros a vos absterdes dos desejos carnais, que combatem contra a alma. Seja correto o vosso procedimento entre os gentios, para que naquilo de que falam mal de vós, como se fôsseis praticantes do mal, ao observarem as vossas boas obras, glorifiquem já Deus no dia da visitação. (Almeida Século XXI).


Nesse texto encontramos um paradigma paradoxal. Pois se diz que, como cristãos, somos “peregrinos e estrangeiros”. Uma melhor tradução seria: “estrangeiros e viajantes”. Estrangeiros: pessoas estrangeiras que moram num país onde não possuem direitos plenos de cidadania. Viajante/peregrinos: são estrangeiros visitantes, não residentes. Os cristãos estão de passagem por esta terra (peregrinos), mas ainda habitam nessa terra (estrangeiros). O fato de sermos peregrinos não nos isenta das nossas responsabilidades aqui na terra. É o que afirma o v.12, com bastante propriedade: “ao observarem as vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação”. O verbo “observar” alude ao um período de observação e reflexão sobre o que viu.

Embora de passagem por esta terra, o peregrino habita nessa terra. O peregrino está passando por essa terra. Mas não é uma simples passagem. Pois, por onde passa, o peregrino deixa suas pegadas, que são semelhantes às pegadas de Cristo.


Perguntas para discussão:

1. Qual a diferença entre a prática de boas obras e o assistencialismo? Reflexão: assistencialismo é uma agenda. Boas obras é um estilo de vida.

2. Como fazer boas obras sem alinhar-se aos grupos políticos que beneficiam classes sociais?

3. Como vencer o ceticismo evangélico que se traduz por frases do tipo “boas obras é coisa para espírita ou católico”, ou, “precisamos evangelizar para salvar almas”?

4. Como fazer boas obras sem fazer proselitismo?


As boas obras como justiça social

Discutir o texto abaixo:

Se a situação histórica de dependência e dominação de dois terços da humanidade, com seus 30 milhões anuais de mortos de fome e desnutrição, não se converte no ponto de partida de qualquer teologia cristã hoje, mesmo nos países ricos e dominadores, a teologia cristã não poderá situar e concretizar historicamente seus temas fundamentais.

Hugo Assmann, Teologia desde la práxis de la liberacion – Ensayo teológico desde la América dependiente, 2ª edição, Salamanca, Sígueme, 1976, p.40.


Por uma análise geral da Bíblia, tendo por base principal os profetas, percebe-se que a fé vem acompanhada de uma prática social.

Ponto focal: a justiça social não é um aspecto da teología dos profetas. É, antes, o fundamento dos seus livros.

Em Miquéias 6.8 encontramos um bom resumo da mensagem dos profetas: Ó homem, o Senhor te declarou o que é bom. Por acaso o Senhor exige de ti alguma coisa além disto: que pratiques a justiça, ames a misericordia e andes em humildade com o teu Deus? (Almeida Século XXI). Segundo este profeta, a prática da justiça social é o culto que Deus requer! É por isso que Jesus é o Profeta. Porque a sua vida foi uma demonstração pública das palavras de Miquéias.


Pergunta para discussão:

1. Num país tão arrasado como o Haíti, o que é mais importante: construir templos ou hospitais/escolas? (O Álvaro R. Alkschbirs, um dos integrantes da Oficina Temática, propôs a seguinte pergunta: “Se você tivesse bastante dinheiro, e pudesse sustentar financeiramente um voluntário no Haiti, qual destes você enviaria: um missionário cristão para pregar a Palavra, ou um médico não cristão, para socorrer os vitimados e doentes? Você só teria esses dois voluntários, e teria de escolher um deles.").


Conclusão

Boas obras não são uma programação agendada. Boas obras são um estilo de vida. A prática das boas obras incorpora a luta contra as injustiças sociais. Boas obras são ações concretas, efetivadas na sociedade, contributivas à dignidade da vida planetária. É precisamente pela práxis social de sua mensagem que a Igreja testemunha eficazmente de Jesus, no poder do Espírito Santo.

Há muitos textos bíblicos fundantes da afirmativa defendida na presente reflexão. Eis alguns:

Tiago 4.17: Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e ano o faz, comete pecado.

Jeremias 22.16: Ele praticou o direito e a justiça! E corria tudo bem para ele! Ele julgou a causa do pobre e do indigente. Então tudo corria bem. Não é isto conhecer-me?

1João 2.29: Se sabeis que ele é justo, reconhecei que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele.

Não somos salvos pelas obras, mas salvos para as obras: veja Efésios 2.10.


Desafios:

A Igreja é uma agência do Reino de Deus. Isso significa que:

1. A Igreja precisa interferir na redução da pobreza.

2. A Igreja precisa lutar pela erradicação de todo tipo de escravidão contemporânea (trabalhos opressores: salários injustos; trabalho infantil, etc...).

3. A Igreja precisa lutar pela vida plena, a que todo ser humano ter direito.

4. A Igreja como agência do Reino de Deus é uma comunidade que protesta contra toda forma de violência.



A igreja é a única organização que existe primariamente para benefício dos não-membros – C. S. Lewis.



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