domingo, 21 de novembro de 2010

UM SEGUNDO TOQUE


Pr Luciano R. Peterlevitz - 13º Aniversário da Igreja Evangélica Presbiteriana Ebenézer, Americana, 19/11/2010


Evangelho Segundo Marcos 8.22-26:

22 Então, chegaram a Betsaida; e lhe trouxeram um cego, rogando-lhe que o tocasse. 23 Jesus, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia e, aplicando-lhe saliva aos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês alguma coisa? 24 Este, recobrando a vista, respondeu Vejo os homens, porque como árvores os vejo, andando. 25 Então, novamente lhe pôs as mãos nos olhos, e ele, passando a ver claramente, ficou restabelecido; e tudo distinguia de modo perfeito. 26 E mandou-o Jesus embora para casa, recomendando-lhe: Não entres na aldeia.


Introdução

Há quatro Evangelhos no NT: Mateus, Marcos, Lucas e João. Evangelho: boas novas. Poder de Deus para todo aquele que crê.

Marcos: Evangelho da ação. Focalizam-se os milagres de Jesus. Destinatários: romanos.

Autor: João Marcos, discípulo de Pedro (1Pe 5.13).

Data e época: depois de 64 d.C., quando o imperador romano Nero desencadeou uma terrível perseguição contra os cristãos de Roma.

Estrutura de Marcos:

O Evangelho de Marcos pode ser dividido em duas partes: 1ª Parte: Mr 1.1 – 8.26 (os milagres de Jesus); 2ª Parte: Mr 8.27 – 16.8 (a morte e a ressurreição de Jesus).

José Bortolini disse que o Evangelho de Marcos pode ser comparado à escalada e descida de uma montanha. Subimos por um lado (Mr 1.1 – 8.26), e descemos pelo outro lado (8.27 – 16.7). No final do Evangelho (16.1-8), somos convidados a retornar ao início, onde tudo começou; somos enviados novamente ao início do ministério de Jesus, na Galiléia (1.14). Em 16.1-8 inicia-se uma nova escalada de fé. Assim, somos desafiados a recomeçar diante de cada empecilho. Diante de cada desafio, é preciso vencer o desânimo, e recomeçar a trilhar.

Portanto, Marcos escreve aos cristãos perseguidos, mostrando a eles que, a despeito da perseguição, sempre é tempo de recomeçar, sempre é tempo de voltar à Galiléia, e recomeçar o discipulado com Jesus.

A estrutura de Marcos aponta quem é Jesus. De início ao fim, o Evangelho responde que Jesus é o Filho de Deus, o Messias esperado: 1.1 (início) – 8.29 (meio) – 15.29 (fim).

Portanto, a narrativa da cura do cego de Betsaida (8.22-26) é o último bloco literário da primeira parte do Evangelho de Marcos. A partir de 8.27, inicia-se a segunda parte de Marcos, que focalizará a crucificação de Jesus (8.31).

É curioso que a cura do cego de Betsaida é narrada somente por Marcos. Esta narrativa é o ponto culminante da primeira parte, que focalizou os milagres de Jesus (1.1 – 8.26). Mas, neste ponto culminante, antes de iniciar sua jornada à cruz, Jesus chega em Betsaida com seus discípulos, onde cura um cego. A cura é efetuada em dois momentos, por dois toques de Jesus. Na verdade, Jesus quer mostrar aos discípulos que eles não estão enxergando com nitidez o plano de Deus. Vejamos isso com mais detalhes.


O primeiro toque: v.22-24

As pessoas de Betsaida levaram até Jesus um cego, para que Ele o curasse. O Senhor tomou o cego pela mão, tocou em seus olhos, e curou-o parcialmente. O cego estava quase curado. Mas via os homens andando como se fossem árvores.

A cura parcial do cego demonstra o estado dos discípulos: eles estão enxergando Jesus, mas de forma embaçada (veja Mr 6.45-52). Eles têm olhos, mas não vêem (8.18; veja v.14-21). Portanto, essa narrativa (8.22-26) arremessa-nos para a primeira parte do Evangelho de Marcos (1.1 – 8.21), que narra o primeiro “toque” de Jesus nos discípulos. Eles já conheciam Jesus. Viram os milagres do Senhor. Mas ainda eram míopes. Essa miopia espiritual é comprovada por outros textos: 8.18; 9.5-7; 9.33-34; 10.35-37.

V.23: “tomando pela mão”: é um gesto de levantar e conduzir aquele que está caído. É isso que Jesus quer fazer com os discípulos: conduzi-los e tocar em seus olhos, para que vejam quem é Jesus, para que não pensem mais nas coisas dos homens, mas nas coisas de Deus (8.33). Então, os discípulos precisam de um segundo toque.


O segundo toque: v.25-26

O Senhor Jesus colocou novamente as mãos sobre os olhos daquele homem, e ele começou a ver claramente. O homem recebeu um segundo toque, e finalmente enxergava todas as coisas nitidamente.

Assim também os discípulos: precisavam de um segundo toque. Um exemplo: Pedro, que reconhecia que Jesus era o Messias. Mas não aceitava a cruz (8.29-33). Ele queria um Jesus sem cruz. Depois, finalmente negou Jesus. Pedro era como um robô: cria, mas não tinha consciência em que cria. Pedro não pensava nas coisas de Deus, mas sim nas que são dos homens.

“Jesus não quer seus seguidores robôs, quem podem ser manipulados, manobrados como escravos para seguirem um causa que não entendem. O seguimento de Jesus deve ser livre e consciente; só assim será uma resposta de amor.” (Euclides M. Balancin).

Cuidado para não ser manipulado com os valores do mundo. Cuidado para não ser moldado com as coisas que os homens pensam. Cuidado com a visão que os outros tem de Jesus. O Senhor Jesus sempre pergunta para nós: O que os homens pensam a respeito de mim? E depois indaga: e você, o que diz sobre mim?

Você entende o que significa ser discípulo de Jesus? Você realmente se comprometeu a seguir Jesus, ou você faz isso só por obrigação, sem alegria? Há muitos crentes robôs: fazem as coisas, mas não entendem por que fazem. Não conseguem enxergar as coisas de Deus. Quando olham homens, vêem árvores. Quando olham para cruz, vêem um pedaço de madeira sem significado. Quando olham para Bíblia, vêem-na como um livro sem vida, incapaz de moldar seus pensamentos e valores.

Após curar aquele homem, Jesus mandou-o para casa, mas ordenou que não entrasse no mesmo povoado. Aquele homem não teria casa fixa. Betsaida era um lugar pagão. Então, aquele homem, com sua visão restaurada, seria um sinal do poder de Deus e levaria muitos a conhecer a Jesus.

Dessa forma, a primeira parte do Evangelho de Marcos (1.1 – 8.26) termina mostrando um pagão tornando-se discípulo de Jesus, e sendo desafiado a viver o discipulado em Betsaida, uma terra pagã. Assim também os discípulos precisavam de um segundo toque do Senhor, para que pudessem viver o Evangelho por onde fossem, negando-se a si mesmos, tomando a cruz, e seguindo a Jesus (8.34), em meio a uma “geração adúltera e pecadora” (8.38). Assim o “segundo toque” é o chamamento à cruz. É isso que lemos em Mr 8.34-38. Este texto caminha para 15.39, texto que descreve a confissão de fé do centurião romano, ao pé da cruz. Naquele momento, o véu rascou-se ao meio, e o acesso à presença de Deus estava garantido (15.38). Ali, junto à cruz, aquele homem que participou da crucificação de Jesus, agora reconhece que o homem quem crucificara é o Filho de Deus. Ele matou o filho de Deus. Mas agora, junto à cruz, aquele centurião estava crucificando o seu eu, tomando a sua cruz, e iniciando sua jornada ao lado de Jesus. Só ao pé da cruz podemos compreender que Jesus é o Filho de Deus. Só ali recebemos o segundo toque de Cristo.


Você está desanimado? Você acredita em Jesus, mas está longe de Jesus? Você acredita na Palavra de Deus, mas molda sua vida nas coisas dos homens e não nas que são de Deus? Você sabe que Deus é o Deus dos milagres, mas seu coração ainda continua endurecido? Então hoje é o dia de receber um segundo toque de Jesus.

Um comentário:

  1. messagem que fala a alma que nos faz querer sermos melhores...Senhor nos ajude a renunciarmos o nosso eu pra que teu eu seja visto em nos!!!pastor Luciano obrigado por essa e tantas outra maravilhosas messagens...Deus continue a te usar...

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