domingo, 21 de novembro de 2010

Suportando as tempestades


Pr Luciano R. Peterlevitz, Missão Batista Vida Nova, 14/11/2010

Leia Marcos 6.45-52.

Introdução

O Novo Testamento possui quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Cada um dos Evangelhos enfoca um aspecto da Pessoa de Cristo: Mateus escreveu para os judeus, e afirma que Jesus é o Messias esperado pelos judeus; Lucas escreveu para os gregos, e seu Evangelho enfatiza a humanidade de Jesus, o Filho do Homem, que veio buscar todos os perdidos; João escreveu para um público amplo, e mostra Jesus como o Verbo, a Palavra encarnada, o Deus que se fez carne. E Marcos? Marcos escreveu para os romanos, e descreve Jesus como o Servo Sofredor. Cristo é o Servo que liberta do poder dos demônios, da enfermidade e das tempestades.


Os quatro Evangelhos contêm tudo o que você precisa saber sobre Jesus. O plano perfeito de Deus através de Jesus é muito bem relatado.


A maioria dos estudiosos está convicta de que Marcos é o primeiro dos Evangelhos escritos. O texto de Marcos foi a fonte dos evangelistas Mateus e Lucas. Dos 661 versículos de Marcos, somente 24 não estão em Mateus ou Lucas. Portanto, Marcos serviu de esboço para Mateus e Lucas.


Diferente dos demais Evangelhos, Marcos é o Evangelho da ação. Ele focaliza os milagres e os movimentos de Jesus para as mais diversas regiões da Palestina. O evangelista escreveu para os romanos, que se interessavam mais em ações do que em discursos. Por isso, Marcos não registra o nascimento e a genealogia de Jesus. Registra somente quatro parábolas de Jesus, mas relata dezoito dos milagres do Senhor. Relata somente um discurso escatológico de Jesus, mas descreve detalhadamente muito dos seus feitos.


O autor do Evangelho é João Marcos, filho na fé do apóstolo Pedro (1Pe 5.13). Pedro relatou a Marcos os milagres, a morte e a ressurreição de Jesus. Pedro andou com Jesus. Viu pessoalmente os grandes feitos do Senhor. Ele foi o único discípulo que andou sobre as águas com Jesus. De fato, Pedro poderia contar perfeitamente quem foi Jesus!


Assim, a narrativa de Mr 6.45-52 foi contada por Pedro a Marcos. O homem que andou sobre a água relatou para Marcos o poder de Cristo sobre o mar e sobre as tempestades.


O Evangelho de Marcos foi escrito depois do ano 64 d.C. Neste ano, o imperador romano Nero incendiou Roma e culpou os cristãos. Uma terrível perseguição foi desencadeada contra os crentes. Paulo foi decapitado em Roma. Os cristãos eram queimados vivos; eram chifrados por touros bravios até a morte; no Coliseu romano, serviam de espetáculo público e eram devorados por leões famintos. Foi para essa gente perseguida que Marcos escreveu o seu Evangelho.


Mas o Evangelho de Marcos também foi escrito para você. O “evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus” (Mr 1.1) pode mudar a sua história, hoje. Mesmo que você esteja passando por terríveis tempestades, como aqueles cristãos primitivos, hoje mesmo você pode clamar ao Deus que controla as tempestades. Nesse espírito, convido você para olhar à narrativa de Marcos 6.45-52, e tirar dela algumas lições para a sua vida.


  1. Enviados para a tempestade

Mr 6.45: “Jesus fez com que os discípulos entrassem no barco e passassem para Betsaida”.


Jesus compeliu seus discípulos a atravessarem o mar. Jesus sabia que um forte vento iria soprar contra eles. Os discípulos obedeceram a Jesus, e entraram no barco. Cristo enviou-os ao meio da tempestade.


Achamos equivocadamente que, devido à nossa obediência a Deus, sempre estaremos livres das tempestades. Mas a história dos heróis da fé demonstra o contrário: nossa obediência a Deus custa caro! Podemos citar alguns exemplos. José, devido a sua integridade, foi traído pelos irmãos, e jogado no fundo de uma cisterna. Noutro momento, foi caluniado por uma mulher adúltera e jogado numa prisão, onde passou no mínimo dois anos. Por que tudo isso aconteceu com José? Porque em todos os momentos ele foi fiel ao Senhor! E o que dizer de Jeremias? Atendeu ao chamado do Senhor, para pregar aos reis de Judá. Foi perseguido por Jeoaquim. Esquecido por Zedequias. Arrastado por seus ao Egito, onde, na velhice, foi apedrejado e morto por seus próprios compatriotas. E Paulo? Obedeceu ao Espírito Santo, e partiu para as três viagens missionárias. Em Listra, foi apedrejado, e quase morreu. Em Filipos, foi chicoteado. Depois das três viagens, viajou para Jerusalém a fim de levar uma oferta aos empobrecidos, e lá foi preso e levado para Roma; na viagem, seu navio naufragou!


Mr 6.46: Jesus mandou a multidão para casa. De acordo com Jo 6.12, a multidão queria coroar Jesus. Mas o Senhor não se interessava por um reinado político. O desejo de Jesus era outro: “foi ao monte orar”. Bem disse Hernandes Dias Lopes: Jesus não tinha tempo para comer, mas tinha tempo para orar. Mas por que Jesus orava?


É interessante a observação do v.47: Jesus orava enquanto seus discípulos estavam no meio do mar. Jesus orava por causa da incredulidade dos corações dos discípulos. Jesus orava porque seus discípulos estavam remando contra o vento (v.48). É muito confortando sabermos que Jesus nos envia para o meio das tempestades, mas não se esquece de nós. Ele intercede por nós junto ao Pai.


  1. No meio da tempestade

Mr 6.48: “o vento lhes era contrário”. Não era a primeira vez que os discípulos enfrentavam uma tempestade no meio do mar. Em Mr 4.35-41, lemos que as bravias ondas daquele mesmo mar já haviam dado com ímpeto contra o barco deles. Mas naquela ocasião Jesus estava com eles. Mas agora eles estão sozinhos.


O vento soprava contra os discípulos, e insistentemente dificultava o remar daqueles homens.


“quarta vigília da noite”. Entre três e seis horas da manhã. Parece que já fazia bastante tempo que eles estavam remando. Em Jo 6.19, lemos que os discípulos já haviam navegado uns vinte e cinco ou trinta estádios. Considerando que cada estádio equivalia a 180 metros, os discípulos já haviam remato cinco ou seis quilômetros. A distância não era tão grande, mas o forte vento minou as suas força. O texto diz que Jesus “queria passar adiante deles”. O Senhor queria que seus discípulos clamassem a Ele.


A grande questão não é a força do vento. A grande questão é: até quando você vai continuar remando contra o vento, sem clamar ao Senhor?


“Mas, ao vê-lo andando sobre o mar” (v.49). Imagine a cena de um mar revolto. Os faixos dos raios alumiando as ondas gigantes. De repente, desaparecendo periodicamente pelos intervalos dos raios, um vulto caminhando sobre o mar. Que cena! Jesus sempre surpreende!


Então, em meio à tempestade, Deus revela o seu poder. Por detrás de uma forte tempestade existe uma mão poderosa, a mão do nosso Senhor Jesus Cristo que controla todos os ventos. Jesus exerce todo o poder sobre a natureza. Ele não só controla a tempestade, mas anda sobre as águas agidas pelo forte vento.


“As tempestades da nossa vida podem estar fora do nosso controle, mas não fora do controle de Jesus” (Hernandes Dias Lopes). Naum afirmou: “o Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade” (Na 1.3). Esse mesmo profeta afirma que o Senhor é bom, uma fortaleza do dia da angústia (Na 1.7).


  1. O conforto e a incredulidade em meio à tempestade

Mr 6.50: “Tende coragem! Sou eu! Não temais!”. Antes de acalmar a tempestade, Jesus acalmou os discípulos. Jesus mostrou para os discípulos que maior era a tempestade que estava dentro deles do que a tempestade que estava fora deles.


“Sou eu”, disse Jesus aos discípulos. “Eu sou”: é assim que Deus normalmente se apresenta no Antigo Testamento. O “Eu sou” é o Deus Criador, Consolador e Sustentador (Is 43.25; 48.12; 51.12). É exatamente assim que Jesus se apresenta!


“Eu sou o que sou”: Ex 3.14. Esse nome revela que o Senhor é o Deus que intervém na história de Israel, libertando-o das amarras da escravidão do Egito. Ele é o Deus que abre o mar. Moisés abriu o mar. Mas Jesus andou sobre o mar. Israel atravessou o mar Vermelho em terra seca. Deus abriu o mar. E quando Ele não abre o mar, Ele vem ao nosso encontro sobre o mar.


Mas como os discípulos se comportaram mediante a ação do “Eu sou”?


Mr 6.51: “ficaram impressionados entre si” (Almeida Século XXI); “no seu íntimo estavam cheio de espanto” (Bíblia de Jerusalém). Os discípulos estavam espantados, mas não se prostraram diante de Cristo. Eles ficaram impressionados pelo poder de Deus, mas seus corações ainda estavam endurecidos.


Mr 6.52. A tempestade revela o estado do nosso coração: “o coração deles estava endurecido”. O poder de Cristo era bastante visível. Mas a percepção dos discípulos era bastante superficial.


Assim termina a narrativa de Mr 6.45-52. Poderia muito bem terminar com uma afirmação sobre o poder de Deus, ou com um cântico de louvor dos discípulos. Mas, infelizmente termina com uma observação sobre a incredulidade daqueles homens. Portanto, a principal tempestade não eram os ventos que arremessavam as ondas contra o barco, mas aquela que estava no coração dos discípulos. A grande questão não são as provas pelas quais passamos. A grande questão é o que está em nosso coração. Qual será nossa atitude quando estivermos em meio à tempestade: incredulidade ou fé?

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