sexta-feira, 25 de junho de 2010

NÃO JULGUEIS

Luciano R. Peterlevitz

Não julgueis, para que não sejais julgados – Evangelho Segundo Mateus 7.1

Lemos no texto uma ordem de Jesus: “não julgueis”. Jogar fora o espírito inquiridor não significa aceitar de forma passiva os erros dos outros ou omitir-se diante dos grandes desvios éticos que existem no mundo. Abandonar o juízo crítico não significa anular nosso discernimento do certo e errado. Antes, o que o Senhor Jesus está ordenando, é que não julguemos o erro dos outros de forma severa, de forma a fazer do julgamento alheio um sinalizador de nossa própria justiça. O que Jesus condena é a hipocrisia (v.5). É a tentativa de assenhorar-se da verdade do erro dos outros para esconder uma fraqueza pessoal. É dizer-se dono da verdade, como um juiz que condena o erro do condenado, quando na verdade, o erro do condenado esconde-se no próprio juiz. Assim, o hipócrita, quando condena, condena um erro no outro que na verdade existe em sua própria vida.
Atentemos-nos para os versos 3 e 4: Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?. O que seria “o argueiro no olho do teu irmão” e a “trave que está no teu próprio olho”? O argueiro seria uma lasca, e a trave uma tábua. Como pode alguém remover o cisco no olho do amigo, se em seu próprio olho há um grande pedaço de madeira?
Normalmente temos a tendência covarde de aumentar o pecado do outro e diminuir o nosso próprio pecado. Tendemos a olhar as faltas dos outros com uma lente telescópica, mas olhamos as nossas próprias faltas com os olhos de um cego. Assim, o julgamento é o jeito mais covarde de jogar o farol no erro dos outros, evitando assim que ele ilumine nosso próprio erro. É o jeito de iluminar o erro dos outros e apagar a luz que aponta nosso próprio erro.
Deveríamos seguir o conselho de John Stott: “Precisamos ser tão críticos conosco como somos geralmente com os outros, e tão generosos com os outros como sempre somos conosco.”
Quando nos colocamos na posição de juizes, afirmamo-nos capazes de administrar o erro dos outros. Passamos a ser administradores dos erros alheios, quando deveríamos ser administradores do nosso próprio erro.
Martin Loyd-Jones disse que o cisco que vemos no olho do próximo é somente o reflexo do pedaço de madeira que está em nosso próprio olho. Assim, primeiro tiremos o pedaço de madeira do nosso próprio olho, e depois tiremos o cisco do olho do irmão. Mas, pode ser que, quando a lasca de madeira for removida do nosso olho, não vejamos mais o cisco no olho do outro. Pois o cisco no outro era somente o reflexo da madeira que estava em nós...
Há um outro detalhe no texto para qual precisamos nos atentar: “para que não sejais julgados”. É isso que disse Jesus: se julgarmos, seremos julgados; se condenarmos, seremos condenados. Com a mesma medida que medimos, seremos medidos. Recorro mais uma vez a John Stott: “Se gostamos de ocupar a cátedra, não devemos ficar surpresos ao nos encontrarmos no banco dos réus.” Assim, o espírito crítico em relação aos outros atrai sobre o crítico a crítica de outras pessoas. Por isso, quem condena, geralmente é mais condenado do que sua própria condenação. Mas, se transmitamos graça, receberemos graça.
Portanto, joguemos fora o espírito inquiridor, e desenvolvamos um espírito gracioso. Pois, com o mesmo teor que julgamos, seremos julgados.

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