Mensagem pregada pelo Pr Luciano
R. Peterlevitz, no culto dirigido pela Jubacel, na PIB de Americana, em 13.07.2013
Efésios 2.10: Pois somos
feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas.
Introdução
A teologia da Missão
Integral da Igreja surgiu na América Latina, entre 1960 e 1970, e foi
inicialmente articulada por teólogos latino-americanos preocupados com a
situação de pobreza dos países da América Latina. A igreja anunciava um
evangelho cuja salvação era relegada totalmente para o futuro; o que importava
era o céu, um lugar etéreo, onde as almas incorpóreas gozariam de plena alegria
e satisfação. As necessidades físicas não eram importantes; o essencial era a
salvação da alma. Mas alguns
teólogos, observando a distância entre a mensagem anunciada pela Igreja e a
situação de pobreza dos países latino-americanos, perceberam a necessidade de repensar
o conceito de missão da Igreja.
A questão destacada
naquele momento foi que a salvação não é somente um evento futuro (a ser
desfruta somente no céu) e restrito à alma/espírito. Em termos temporais, a
salvação começa aqui e agora, ainda que sua consumação esteja reservada para o
futuro. Em termos de abrangência, a salvação diz respeito à restauração
integral do ser humano.
Nos dias de hoje o lema
da Missão Integral da Igreja é: o
Evangelho todo para todo o homem e para o homem todo.
A teologia da
Missão Integral influenciou o Pacto de Lausanne, assinado por 2.500 cristãos de
150 países, no Congresso Mundial de Evangelização ocorrido em Lausanne (Suíça), em 1974. Destacamos aqui
um trecho do Parágrafo 5º: ... nos
arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a
evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a
reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social
evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a
evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever
cristão.
Certamente a teologia
da Missão Integral é relevante para nossos dias, em que as injustiças sociais
ainda imperam. Porém, alguns defensores da Missão Integral têm se enveredado
por alguns extremismos, que precisam ser evitados. Analisemo-los rapidamente:
1)
Ação
social é mais importante do que evangelização. Esse é um
extremismo que precisa ser evitado. De fato a fé sem obras é morta. Mas obras sem
fé no evangelho também são mortas. René Padilha, um dos mais conhecidos
representantes da Missão Integral, afirma que “a missão integral inclui a
proclamação oral de Jesus Cristo como Senhor e Salvador”. O Pacto de Lausanne também
destaca que a libertação política não significa salvação. Os pobres precisam de
restauração social, mas também carecem da graça de Deus em Cristo. Veja
Cornélio: convertido ao judaísmo, homem temente a Deus, fervoroso em oração,
dava esmolas aos necessitados (At 10). Ele praticava boas obras, mas, sem
Cristo, estava perdido.
2) A vida presente é mais importante do que a vida
futura. De fato a vida eterna começa agora. Mas não podemos reduzir a vida ao
‘aqui’ e ao ‘agora’. “Pelo fato de colocarmos ênfase na responsabilidade social
e política da igreja, não estamos colocando de lado a salvação em Cristo Jesus
para toda a eternidade em sua presença”, diz Padilha. Se nossa esperança se
limita só apenas nessa vida, somos os mais infelizes de todos os homens.
3) Mais Jesus, menos Igreja.
Cada vez mais aumenta o número dos‘desigrejados’, defensores de um tipo de
espiritualidade sem igreja. Mas a Igreja é o Corpo de Cristo. O
institucionalismo deve ser evitado, e o ritualismo religioso é severamente
condenado nos livros proféticos e por Jesus. Mas é impossível desenvolver a
vida cristã sem o vínculo com a comunidade dos salvos por Jesus, a Igreja.
Feitas essas
considerações, podemos refletir sobre a Missão Integral da Igreja a partir de
Ef 2.10. Os versos anteriores (v.1-9) dizem o que éramos (nosso estado sem
Cristo, o que fazíamos sem Cristo) e o que Deus fez por nós. Ef 2.10 diz quemnós
somos e o que fazemos, em razão do que Deus fez por nós.
1.
Quem somos: “feitura dele”
Somos “feitura dele (de
Deus)”. A palavra “feitura” (grego poiema)
pode ser traduzida por “obra”. Em Cristo, somos uma obra de arte de Deus. A
palavra aparece em Rm 1.20, referindo-se à criação iniciada em Adão. O problema
é que essa criação está corrompida e decaída. Por um só homem, Adão, o pecado
entrou no mundo, e pelo pecado, a morte, e a morte passou a todos os homens (Rm
5.12). Mas Deus está formando uma nova humanidade, em Cristo. “E, assim, se
alguém está em Cristo, é nova criatura” (2Co 5.17a).
Deus faz uma grande obra
em nossas vidas, e faz das nossas vidas uma grande obra. De acordo com Ef 2.1-9,
somos salvos pela graça mediante a fé, sem obras. Estávamos mortos, mas Deus
nos deu vida em Cristo. Dos sepulcros fomos elevados para as regiões celestiais
em Cristo. Nossa palavra portuguesa “poesia” provém do grego poiema,palavra empregada nesse texto de
Ef 2.10 e traduzida por “feitura”.Em Cristo, somos a poesia de Deus. A graça divina
pode transformar cadáveres em obra de arte viva. O Senhor não somente faz uma
grande obra; Ele a faz com arte. Em meio à morte, Deus faz ressurgir a vida.
Nossas vidas são como flores que nascem em meio a arbustos secos.
Não importa seu atual
estado. Importa o que Deus pode fazer em você, pelo poder da sua graça. Você
sente-se um trapo? Jesus é especialista em trapos. Muitos dizem: “não tenho
jeito”. Mas pau que nasce torto não precisa morrer torto.
Sl 100.3: Sabei que o Senhor é Deus, foi ele quem nos
fez.
Num mundo de trevas,
Deus quer transformar você em luz. Num mundo marcado pela morte, Deus levanta
pessoas do túmulo e as transforma em troféus da vitória de sua graça. Em meio à
feiura deste mundo, Deus pode transformá-lo numa obra de arte.
2.
O que fazemos: “criados em Cristo Jesus para as boas obras”
Quando o texto descreve
quem nós somos (“feitura dele”), necessariamente está dizendo o que fazemos
agora. Ser e fazer são verbos indissociáveis. Se verdadeiramente nós somos nova
criatura, devemos fazer novas ações. Boas obras são um resultado natural de
quem foi salvo pela graça de Deus. Somos obras de Deus criadas para as boas
obras.
“a quais Deus de
antemão preparou para que andássemos nelas”. Outrora andávamos segundo o
príncipe deste mundo (v.2). Outrora andávamos “segundo as inclinações da carne”
(v.3). Agora o v.10 descreve um novo andar, uma nova maneira de viver.
O que são, exatamente,
boas obras? Arrisco uma definição: são
todas as coisas boas resultantes da graça de Deus e planejadas por Deus.
As “boas obras” não são
“obras da lei” (justiça vinda pela prática da lei), incapazes de produzir a
salvação (Rm 3.20; Gl 2.16). Também não são meramente “obras”, para que ninguém
se gloria (v.9). As obras, sem a obra de Cristo, são trapos de imundícia.
Trata-se de “boas obras”. Essas obras
são boas porque são ações resultantes
da graça e da bondade de Deus. Não fazemos boas obras porque somos bons.
Fazemos boas obras porque Deus é bom. Só Ele é bom. Somos salvos pela graça de
Deus (Ef 2.8).
Boas obras são todas as
coisas boas planejadas por Deus. Não se trata simplesmente de ajudar os
necessitados. É claro que o engajamento contra os problemas sociais deve fazer
parte da agenda da Igreja. Veja, por exemplo, o envolvimento dos profetas com
as questões políticas e sociais do antigo Israel. Também, é óbvio que a ajuda
aos necessitados é parte fundamental da tarefa da Igreja. No dizer de Tiago, a
fé sem obras é morta. Mas aqui em Ef 2.10 o conceito de “boas obras” transcende
a práxis da Igreja junto aos necessitados. É isso, também. Mas, é mais do que
isso.
Voltemos à definição
aventada por nossa reflexão: boas obras são
todas as coisas boas resultantes da graça de Deus e planejadas por Deus. Quem
disse que pregar a Palavra não é uma boa obra? Quem disse que compor e cantar
uma música não são coisas boas? Quem disse que pautar sua família nos valores
da Palavra de Deus, educando filhos nos valores cristãos, formando assim filhas
e filhos equilibrados para sociedade, não é coisa boa?
Exemplifiquemos melhor.
Exemplo 1: Maria estava
depressiva, e diariamente pensava em tirar a própria vida. Mas, movida pelo
Espírito Santo, ela se dirigiu a uma igreja, onde ouviu um pastor pregar a
Palavra de Deus. Ela respondeu positivamente à Palavra viva e eficaz, invocou o
nome do Senhor, e reconheceu Jesus como Senhor e Salvador. O pastor e aquela
igreja iniciaram um trabalho de acompanhamento emocional para Maria. Às vezes
ela ainda tem algumas recaídas emocionais, mas naquela comunidade ela é
acolhida, aconselhada, e sua vida foi transformada pelo poder do Evangelho.
Ora, aquele pastor e aquela igreja não fizeram uma boa obra?
Exemplo 2: pode-se
dizer que aqueles que trabalham com viciados são pessoas que fazem boas obras.
Mas, e aquelas pessoas que trabalham com adolescentes e jovens em nossas
igrejas, ensinando-lhes a Palavra de Deus, alertando-os sobre os perigos do
mundo, mostrando que os caminhos dos vícios conduzem à morte? Essas pessoas também
não estão fazendo boas obras? Normalmente achamos que boas obras significam
tirar jovens viciados do poço, mas esquecemos daquelas pessoas que também fazem
boas obras, ao se colocarem à beira do poço e alertarem os jovens sobre o
perigo do poço. Impedir que uma pessoa se lance no poço é tão importante quanto
tirar uma pessoa do poço.
Voltemos a Ef 2.10. É notável
também que, em última instância, as boas obras são obras de Deus. Observe que o
texto diz que as boas obras foram preparadas pelo próprio Deus. Nesse texto
bíblico, boas obras não são exatamente ações humanas, mas são ações preparadas
e realizadas pelo próprio Deus. Nós simplesmente andamos nelas! Ou seja, Deus
está fazendo muita coisa boa no mundo, hoje. Precisamos vencer o negativismo.
Há pessoas que só veem coisas ruins no mundo. Se, por um lado, a violência, a
pobreza e a injustiça parecem prevalecer, por outro lado, tem muita gente
ajudando muita gente. Veja, por exemplo, o trabalho batista da Cristolândia.
Sim, Deus está fazendo boas obras através
de pessoas. Pessoas são instrumentos. Deus é o agente. Diz o texto de Efésio
que Ele mesmo preparou essas boas obras.
Então o Senhor diz:
“Estou fazendo uma boa obra no mundo. Você quer participar dessa obra?”. Que
tal atender ao convite do Senhor?
Conclusão
1. A
obra de Deus é completa. O Senhor não faz nada pela metade. A salvação proposta
por Ele foi consumada pela morte e ressurreição de Cristo. É uma salvação
completa, integral. Ele restaura o ser humano de maneira integral (corpo,
alma/espírito). O Evangelho é o poder de Deus para salvar aquele que crê. Acredite:
Deus pode fazer muito além daquilo que você pensa.
2. Vivemos
uma situação caótica: tráfico de drogas, corrupção, pobreza e miséria,
violência, abuso e exploração de criança, injustiças, etc. Só o poder do
Evangelho revelado em Cristo pode reverter a situação caótica em que vivemos. Do
caos, surge a esperança. Da morte, a vida. O Senhor quer fazer de você uma obra
de arte em meio ao caos.
3. As boas obras
foram planejadas por Deus. Agora, precisamos andar nelas. Você não é salvo
pelas boas obras, mas é salvo para as boas obras. Não fazemos coisas boas
porque somos bons, mas porque Deus é bom. Não fazemos boas obras para alcançar
a bondade de Deus. Fazemos boas obras porque o Senhor já derramou sua bondade
sobre nós. Não fazemos para que Deus faça algo por nós. Fazemos porque Ele já
fez tudo por nós.
Gostei Luciano:Não fazemos coisas boas porque somos bons, mas porque Deus é bom. Não fazemos boas obras para alcançar a bondade de Deus. Fazemos boas obras porque o Senhor já derramou sua bondade sobre nós. Não fazemos para que Deus faça algo por nós. Fazemos porque Ele já fez tudo por nós.
ResponderExcluirPerfeito e completo. Abraço!