quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ


Luciano R. Peterlevitz


Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego;
visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.
(Almeida Revista e Atualizada). Romanos 1:16-17


INTRODUÇÃO

Martinho Lutero foi profundamente influenciado por este texto bíblico. O monge tinha sua alma abatida pela terrível dúvida sobre a justiça de Deus, a qual ele entendia como a punição dos ímpios. Mas a vida de Lutero foi completamente transformada quando ele descobriu que a justiça de Deus, na epístola de Paulo aos Romanos, é a salvação gratuita, pela graça, mediante a fé.

Desejo que a mesma mensagem que transformou a vida de Lutero transforme também a sua vida.

Como é fantástica a mensagem do Evangelho! No dizer da Escritura, o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. A palavra grega euaggelion significa mensagem. É um termo técnico para mensagem de vitória. A mensagem do Evangelho é a declaração de que Cristo venceu, e que por isso, através de Jesus, através do poder dEle, você também pode vencer. Toda a sua existência depende dessa afirmação.

Convido-o a refletir sobre a justificação pela fé. Para tal, falaremos primeiramente sobre os injustos. Depois, sobre os justos. E finalmente, sobre a fé.


1. OS INJUSTOS

Deus não justifica justos

“O justo viverá pela fé”. Antes de entendermos tal declaração, é preciso afirmar que, segundo a Escritura, não existe um justo sequer diante de Deus: Rm 3.10.

Todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus: Rm 3.23.

Qual a diferença entre nós e um criminoso? Diante da justiça de Deus, nenhuma. Explico.

Diante da ética e dos princípios normativos, há muita diferença entre um criminoso e uma pessoa inocente, que não pratica a criminalidade, roubo, corrupção ou qualquer outro desvio ético.

A justiça dos homens é bem exigente. Matou? Então tem que morrer. Abusou de crianças? Tem que pagar? É corrupto? Cadeia nele! Realmente os valores que prezam pela justiça social são muito válidos e necessários. Certamente o próprio Deus exige tais valores, conforme lemos nos Dez Mandamentos.

Mas a justiça de Deus é bem mais exigente do que a justiça dos homens. Por que? Ora, porque nós acreditamos que existem ‘graus’ de pecado. Acreditamos que matar é bem pior do que mentir. Acreditamos que adulterar é incomparavelmente pior do que simplesmente cobiçar algo ou alguém que não nos pertence. De modo que os infratores devem ser tratados de acordo com o ‘grau’ da criminalidade que cometeram. Repito: tais valores são fundamentais para a ética cristã e para a boa convivência na sociedade.

Mas, também repito, a justiça de Deus é mais exigente do que a justiça humana. Porque para Deus não existem ‘graus’ de pecado. Para Deus, todo pecado gera a morte. Aliais, em Rm 6.23, não lemos sobre “pecados” (plural) que mereçam a morte, mas sim, pecado, cujo salário é a morte.

Você pode guardar fielmente a lei de Deus. Mas se tropeçar “em um só ponto, torna-se culpado de todos” (Tg 2.10).

Portanto, Cristo morreu pelos ímpios. De acordo com a justiça de Deus, todos nós somos ímpios. Então Jesus não morreu por crentes, mas por incrédulos. Ele não morreu por santos, mas por pecadores. Cristo morreu por nós quando éramos fracos, incapazes de fazer qualquer coisa por nosso pecado. Aqueles que não crêem nisso não têm enfermidade da alma. Mas Jesus não veio para os sãos, mas para os doentes. Por isso, Deus não justifica justos.

Por isso, meu caro, jogue fora seu senso de justiça. Pois a justiça de Deus exige a morte de todos. Pois todos pecaram. Diante da justiça divina, não há um justo sequer. Mas graças a Deus que a justificação não é para justos, mas para injustos.


2. OS JUSTOS

Os justos, aqui em Rm 1.17, não são aqueles que praticam atos de justiça.

Saiba: Nossas obras são trapos de imundícia diante de Deus: Is 64.6. Assim, estão completamente equivocados aqueles que, por cumprirem seus deveres, colocam Deus sob a obrigação de levá-los ao céu.

Entendamos um pouco mais a justiça de Deus.

“Justiça”: é o estado de perfeição que Deus requer de todos que se comparecem diante dEle. Acontece que nenhum de nós tem tal perfeição. Daí a necessidade da justificação.

A justificação é uma declaração de justiça. Justificação pode ser definida como o ato em que Deus nos declara justos. Deus nos declara justos antes de nos tornar justos. Deus não justifica justos, mas coloca sobre os injustos a Sua justiça. Essa justiça é concedida gratuitamente por Cristo, que assumiu nossa injustiça e coloca sobre nós a Sua justiça. Assim, Deus não olha mais para nosso pecado ou injustiça, mas sim para o sangue de Cristo que está sobre nós. É o sangue de Cristo que nos purificada de todo o nosso pecado, e nos torna justos diante de Deus.

Deus requer de nós uma justiça que seja igual à Sua justiça. Mas não temos tal justiça. Então, Ele outorga tal justiça pelos méritos de Jesus Cristo. Alguém já disse acertadamente que a justificação de Deus é a justificação justa do injusto através da qual Ele demonstra a sua justiça ao mesmo tempo que nos confere justiça.

Assim, a Bíblia afirma que Deus é “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26).

Ilustremos isso. Um homem bateu à porta de uma senhora pobre, com o intuito de ajudá-la. Ela, pensando que seria alguém que lhe cobraria o aluguel, se escondeu. Assim também, Cristo bate à sua porta com as mãos que foram crucificadas por você. Mesmo que você tenha uma dívida para com Deus, Cristo não bate à porta para lhe julgar. Mas Ele bate à porta para lhe oferecer o Pão da vida.

A salvação é pela graça, livre, gratuita, sem dinheiro. O único que tinha o direito de julgar é o Juiz, e Ele já propôs sua absolvição inteiramente de graça pela morte do seu Filho.

Os justos que vivem pela fé são aqueles que receberam a justiça de Cristo. Por isso, ninguém pode mais condenar os que estão em Cristo Jesus: Rm 8.1. O Diabo é o acusador, mas ele não pode mais nos acusar. Nossa consciência não pode mais nos acusar. Ninguém pode mais nos acusar. Porque Deus, o único que tinha o direito de nos condenar, enviou seu Filho para morrer por nós, e sobre nós coloca a justiça do Seu Filho que nos torna aceitáveis para Ele mesmo.


3. A FÉ

O justo viverá pela fé.

Fé é crer que Deus pode justificar o pior dos pecadores.

Fé é crer que Deus pode condenar ao inferno por causa do pecado, sem considerar diferentes graus de pecado.

Fé é crer que o salário do pecado já foi pago por Cristo. Pensemos um pouco mais nisso.

Fé é crer que o sacrifico de Cristo é suficiente para a salvação

A fé é simplesmente crer que somente e tão somente o sacrifício de Cristo é capaz de nos salvar.

Isso realmente exige fé. Pois você é convidado para jogar fora qualquer esforço para conseguir a salvação por seus próprios méritos.

Fé é crer que o sacrifício de Cristo é perfeito para a salvação

O ser humano sempre tenta melhorar um pouquinho aquilo que Deus já fez de forma perfeita. Mas o sacrifício de Cristo é perfeito. Não precisa ser melhorado.

Fé é crer que o sacrifício de Cristo foi único. Não é preciso outro sacrifício. Cristo morreu de uma vez por todas: Hb 9.11-12.

Charles Spurgeon compara a salvação pela graça com uma criança a qual você oferece uma fruta. Ela estende a mão para recebê-la porque você a mostrou e prometeu-lhe dar. “Aquilo que a mão da criança é para a fruta é a sua fé para a salvação perfeita de Cristo. A mão da criança não faz a fruta, nem a melhora, nem a merece, toma-a simplesmente.”

Fé é crer que a obra de Cristo é a base da salvação

A base da nossa salvação é a obra consumada de Cristo.

Há uma história que ilustra isso. Um homem morreu e foi para o céu. Perguntou-lhe o anjo: porque devo deixar você entrar aqui? A resposta correta: porque Cristo morreu por mim.

Lembremos que somos salvos pela graça. Então, a fé não é a causa da salvação, mas o meio pelo qual nos apropriamos dela. Somos salvos pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo: Ef 2.8.

Fé é a mão vazia, o meio pelo qual se recebe a graça de graça. Para você receber essa graça é necessário esvaziar a mão. Se a mão estiver cheia, é impossível receber o presente de Deus. Fé é o esvaziar-se do eu.

Calvino dizia que a fé é um vaso: “a menos que esvaziemos e abramos a boca da alma para a graça de Cristo, não seremos capazes de recebê-lo.”

Spurgeon dizia: “Um servo idiota que é chamado para abrir uma porta mete os ombros nela e empurra-a com toda a sua força, mas a porta não se mexe e ele não pode entrar apesar de todo o seu esforço. Outro vem e com uma chave e facilmente abre a porte e logo entra. Aqueles que desejam salvar-se pelas obras, estão empurrando a porta do céu sem resultado. Fé é a chave que abre de uma vez.”

Você não precisa fazer por Cristo aquilo que ele já fez por você. Se Jesus já morreu por você, se Ele já pagou o preço, isso significa que Ele fez por você o que você não seria capaz de fazer. O que lhe resta? A fé.


CONCLUSÃO

Cristo nos tornou como nós, pecadores, para nos transformar como Ele, Santo. Ele assumiu a nossa injustiça para tornar-nos justos. Fez-se o que não era para nos tornar o que não somos. Ele mesmo assumiu nossa injustiça para que nos tornássemos justos. Por isso, o Evangelho é o poder de Deus para todo aquele que Nele crê. Basta crer.

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