sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A VIDA EM COMUNIDADE

Pr Luciano R. Peterlevitz. Mensagem pregada no Aniversário da PIB de Hortolândia, em 26.04.09.

Hb 10.24-25: E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e ás boas obras, Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia.


Tem muita gente frustrada com a Igreja. Há pessoas que se deixaram dominar pela indiferença: desistiram da vida em comunidade. Elas jogaram Hb 10.25 no lixo. Disseram que a igreja é lugar de gente desequilibrada. Como diz um hino do CC: “Tu no teu cantinho, e eu no meu”.

Mas há outro fato. Tenho impressão de que muitos procuram um pretexto para não ir mais à igreja. Afirmam que lá existem pessoas cujas vidas não condizem com o que pregam. Entretanto, os que fazem essa afirmação precisam entender que eles nunca vão amadurecer caso não se envolvam nos bastidores da comunidade.

Vejamos. A expressão “uns aos outros” aparece cerca de 20 vezes no NT. Observando a ocorrência dessa expressão, percebemos que o fator mais importante na formação de um cristão é a rede de relacionamentos na qual ele está inserido e integrado.
Mas, como bem demonstrou Ed René Kivitz em um de suas mensagens, há um paradoxo na vida em comunidade. Pois essa rede de relacionamentos é o maior tropeço do cristão! Quanto mais nos relacionamentos mais expostos às feridas estamos, mais corremos o risco de desentendimentos. Mas, em contrapartida, sem ela não crescemos.
Então, vejamos porque precisamos nos envolver na comunidade cristã, mostrando como esse envolvimento nos leva ao amadurecimento.


1. Precisamos nos envolver na comunidade porque precisamos uns dos outros.
Hb 10.24: “consideremo-nos também uns aos outros...”. O verbo considerar significa “observar, considerar atenciosamente, fixar os olhos ou a mente em alguém.” A idéia é fixar os olhos em alguém para sermos estimulados ao amor e às boas obras!
Já vi muita gente dizendo que precisamos ir à igreja não por causa de pessoas, mas para adorar a Deus. Isso é verdade, em partes. Digo em partes, porque para alcançarmos a maturidade precisamos olhar uns para os outros.

O companheirismo é muito comum entre os personagens bíblicos; eles geralmente andam em dois: Josué e Calebe; Moisés e Arão; os discípulos de dois em dois; etc; Paulo e Barnabé ou Paulo e Silas.
Você quer experimentar o amor de Deus em plenitude? Saiba que esta experiência só é possível na integração no corpo de Cristo. Você quer ter paz? Só é possível ter paz na experiência com os santos (Cl 3.15-16).
Ef 4.11-16: todos estamos sendo aperfeiçoados. Mas qual é a dinâmica desse aperfeiçoamento? O relacionamento.
Hb 3.12-13: precisamos estar expostos à exortação diária dos outros irmãos.

Um alpinista experiente não ousa escalar uma montanha sem um bom sistema de segurança. Ele sobe pela corda que está ligada aos ganchos, e estes, por sua vez, estão firmes na montanha. No entanto, para exercitarmos a fé, muitas vezes precisamos de um alpinista mais experiente, que nos ajude a escalar a montanha. Se escorregarmos, há uma corda que nos segura e não permite a queda. Há uma ligação entre os alpinistas. Assim também, a amizade é a corda que nos mantém presos à montanha. Muitos precisamos de um ‘alpinista’ que controle as cordas e que saiba lidar com os instrumentos de escalagem, para que venhamos continuar firmes na rocha, que é Cristo.

A fé é alicerçada na mutualidade. Na verdade, é impossível pensar em fé sem o Corpo de Cristo, a igreja. Aí existe uma ‘só fé’ (Ef 4). É na comunidade que a fé é desenvolvida.

Rm 4.12: mas também andam nas pisadas da fé que teve Abraão...
Jd 20: Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo,

Somente o ser humano expressa a imagem e semelhança de Deus. Ele pode passar a vida olhando os lírios do campo, mas ele não compreenderá tanto Deus se não olhar para os outros seres humanos. Por isso, olhemos uns aos outros, para nos estimular ao amor e às boas obras.


2. Precisamos nos envolver na comunidade porque vivemos dias difíceis
Hb 10.25: observemos o significado da palavra “admoestação”: παρακαλεω parakaleo, “ chamar para o (meu) lado”. É desse termo que vem parakletos, “Consolador”: Jo 14.16. O sentido é colocar-se ao lado para ajudar. Assim, a palavra parakaleo significa “consolar, encorajar e fortalecer pela consolação, confortar.”
“...tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima”. Vivemos em dias dificeis, e a volta de Cristo se aproxima. Precisamos uns dos outros, para que saibamos nos preparar para a volta do Senhor.

Hernandes Dias Lopes conta um episódio ocorrido numa Olimpíada de pessoas deficientes, em Seattle (USA). Ao sinal da largada, duas jovens saíram na frente. Uma ganhou a dianteira, e recebeu o aplauso da multidão. Mas repentinamente caiu. A adversária que vinha logo em seguida parou para ajudá-la! A multidão gritava: avance, corra. Entretanto, a jovem ajudou a adversária a se levantar, e esperou as retardatárias chegarem. De mãos unidas, todas juntas cruzaram a linha de chegada. O estádio aplaudiu em pé!

“A melhor vitória é aquela que compartilhamos com os outros. Deus não apenas nos levanta para a vitória, mas nos faz encorajadores de outros”, diz Hernandes.

O Senhor já lhe deu a vitória através da cruz do Seu Filho? Sua fé tem sido fortalecida? Então, o Senhor sussurra em seus ouvidos: “fortalece os teus irmãos” (Lc 22.32). Mas se você está enfraquecido, busque alguém na comunidade cristã, buscando nessa pessoa o fortalecimento de sua fé.


3. Precisamos nos envolver na comunidade porque precisamos aprofundar nossos relacionamentos
Há pessoas que vivem na solidão.
Mas porque muitos não conseguem desenvolver relacionamentos maduros? Porque eles querem alguém que não confronte o seu erro. Lembremos que o exortar também objetiva confrontar o pecado (Hb 3.13).
Pv 27.5-6: “melhor é a repreensão aberta...leais são as feridas feitas pelo o que ama.”. Você quer saber quem é o seu amigo: é aquele que põe o dedo na sua ferida, e quando você olha em seus olhos, você vê amor. Agora aquele que fica lhe “amando em Cristo”, no louvorsão, convivendo com seu pecado, esse é abominável.

O atrito é preciso. Pv 27.17 fala de um atrito. Entretanto, para o ferro ser afiado com o ferro, é necessário o atrito. Uma raspadinha de leve não altera a estrutura nem de um nem de outro. Mas só quando são atritados longa e fortemente.
O mesmo ingrediente que faz com que a amizade cresça, é o mesmo ingrediente que faz com que a amizade seja destruída. O mesmo atrito que nos leva ao amadurecimento, pode nos levar à amargura. Depende da maneira como olhamos.
Você vê o atrito como uma oportunidade para demonstrar sua velha natureza, ou como uma oportunidade para demonstrar graça e perdão, desenvolvendo assim sua maturidade cristã?
Saiba: sua velha natureza foi pregada na cruz, com Jesus!
Então, o atrito é preciso e precioso!
O segredo da amizade é a transformação mútua. Convivo com alguém que contribui com a qualidade de minha vida, e esse alguém contribui para a qualidade de minha vida. O ferro afia outro ferro. Esse é um relacionamento que vale a pena ser cultivado. Esse relacionamento me torna melhor marido, melhor crente, melhor cidadão.
Onde é que não concordamos? Se você convive com alguém em que você concorda com tudo com ela, você encontrou a alma gêmea (e isso é mito), ou seu relacionamento com essa pessoa é muito superficial.
“Eu não quero um amigo que me repreenda, que se intrometa na minha vida; eu quero viver como sou, como estou, vou fugindo dos atritos.”
Mas o fator de sucesso da amizade é o atrito. Amigos que se atritam, e permanecem se atritando, até que encontrem um ponto de equilíbrio, esses estão se enriquecendo na presença do Senhor. E é porque se atritam que são amigos.

Você quer permanecer como está, sem crescer, sem amadurecer? Então não se deixe ser confrontado.


Conclusão
A maturidade cristã está intrinsecamente relacionada à mutualidade. É impossível falarmos de maturidade cristã sem falarmos de mutualidade cristã.
Infelizmente, creio que esta rede de mutualidade é o contexto das maiores dores e sofrimentos. Entretanto, os frutos que colhemos nessa rede de comunhão são incomparavelmente maiores do que as dores causadas por ela.

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