segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

EU SOU O SENHOR


Pr Luciano R. Peterlevitz – Missão Batista Vida Nova, 02/01/2011

Leia Êxodo 6.2-9

Lemos em Êxodo 3 que Moises pastoreava o rebanho do seu sogro Jetro, quando foi chamado por Deus para libertar Israel do Egito. Naquela ocasião, Moisés desculpou-se diante de Deus: Quem sou eu para tamanha tarefa? O Senhor respondeu-lhe: Certamente eu serei contigo. Depois, mais uma vez Moisés esquivou-se do chamado, dizendo a Deus: Se os israelitas perguntarem por Seu nome, o que direi? Então Deus respondeu a Moisés: “Eu Sou o que Sou. Assim responderás aos israelitas: Eu Sou me a enviou a vós.” (Ex 3.14).

Depois de uma tentativa frustrada de falar ao povo de Israel (5.20-23), Deus se manifesta novamente a Moisés, aqui em Ex 6.2-8. Ao contrário de Ex 3.14, agora Deus afirma claramente o seu nome: “Eu sou o Senhor”.

Eu Sou o que Sou. Eu sou o Senhor. É assim que Deus se apresenta para um povo escravo. Vejamos. Detenhamo-nos em Ex 6.2-8.

Uma nova revelação do nome divino - Javé, o Deus Libertador

V.3: “Todo Poderoso”: El Shadday. Abraão, Isaque e Jacó não conheceram Deus como Javé, o Deus Libertador. Aos patriarcas, Deus mostrou-se como El Shadday. Este nome divino mantém relação etimológica com shadayim, “peitos”, “fertilidade” (cf. Gn 49.25). Em Gn 17, ocasião em que Deus promete para Abraão uma descendência numerosa, Ele se apresenta como El Shaday (Gn 17.1). A esterilidade de Sarai seria transformada em fertilidade. Para os patriarcas, Deus é o Deus da fertilidade. Mas a partir de Moisés, Ele se mostraria com outro nome. É assim que Ele se apresenta para Moisés. Portanto, o êxodo constitui-se um novo estágio na revelação bíblica. A partir do êxodo, Deus tem uma nova forma de se apresentar.

V.2: “Eu sou o Senhor”. Essa é a declaração central do Êxodo (6.2, 6, 8). O nome “Senhor”, aqui, é o nome sagrado, chamado também de tetragrama sagrado: YHWH. Um determinado partido religioso arroga-se no direito de afirmar que a pronúncia do nome sagrado de Deus é Jeová. Entretanto, nem mesmo os judeus mais ortodoxos sabem a verdadeira pronúncia do nome. Pois, para não tomar o nome de Deus em vão, após o exílio babilônico (século 6º a.C.) os judeus deixaram de pronunciar o nome sagrado. Em lugar de YHWH, eles pronunciam Adonai. Hoje, mesmo equivocadamente, pode-se ler Javé ou Iavé.

Mas, o mais importante não é a pronúncia do nome sagrado, mas seu significado teológico. “Eu Sou o que Sou’, disse Deus para Moisés (Ex 3.14-15). O nome YHWH é a contratação de ‘eyehyeh asher ‘eyehyeh, “Eu Sou o que Sou”. Esse nome não alude à auto-existência de Deus, como presumem alguns teólogos. De fato, Deus é Auto-Existe. Mas não é esse o significado do nome sagrado, no contexto do Êxodo. Pois, a rigor, Javé não é nome próprio, mas uma ação verbal. O verbo “ser”, na língua hebraica (hyh), é melhor traduzido por “acontecer”. Portanto Javé se apresenta como o Deus que age, o Deus que faz acontecer. Na verdade, inicialmente Ele não revela seu nome (Ex 3.14), mas revela seu atributo histórico. Ele é o Deus que age. Javé é o Deus do êxodo. É o Deus que se apresenta por uma forma verbal. É o Deus da ação. É o Deus que intervém na história do povo pobre e oprimido.

A aliança com Abraão, Isaque e Jacó

V.4: “Estabeleci a minha a aliança com eles”. Deus fez uma aliança com Abraão (Gn 15). É preciso, pois, aproximar Ex 6 de Gn 15. Em Gênesis, Abraão duvidava das promessas. Então o Senhor ordenou a Abraão: traga uma novilha, uma cabra, um carneiro (todos três anos), e uma rolinha e um pombinho. No Antigo Oriente, animais cortados ao meio ritualizam um pacto (Jr 34.18). Os contraentes passavam por entre as partes dos animais mortos. Símbolo: se um dos contraentes descumprisse o pacto, sofreria o mesmo destino do animal morto. Mas, em Gn 15, só Deus passa entre as metades dos animais! Caso os descendentes de Abraão descumprissem a aliança, Ele mesmo assumiria sobre Si o prejuízo. Ele estabeleceu a aliança com Abraão. E, naquele contexto, prometeu a descida da família de Abraão para o Egito, onde permaneceria escrava por 400 anos, mas depois seria liberta (Gn 15.13-16).

“Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó.” É o Deus que passou por entre as partes dos animais. É Deus que se comprometeu a visitar Israel no Egito. “Eu sou”, diz o Senhor.

A páscoa judaica e a páscoa cristã

Finalmente acontece o êxodo do Egito (Êx 12). Numa tarde do décimo quarto dia do primeiro mês (marco-abril), as famílias israelitas sacrificaram um cordeiro macho, sem mácula. Aspergiram um pouco do sangue nos batentes das casas. Naquela noite, comeram a carne assada no fogo. Comeram com o cinto na cintura, com os sapatos nos pés e com o cajado na mão; comeram como quem está saindo de viagem. De fato, estavam saindo da terra da escravidão para a terra da promessa. Naquela noite Deus visitou o Egito e não matou os primogênitos em cujo batente da casa havia o sinal do sangue. Um bando de escravos estava se tornando a nação organizada pelo Deus Javé, o Deus Libertador.

Deus visitou os israelitas, dizendo: “Eu sou o Senhor” (Ex 12.12).

A partir da libertação do Egito, a páscoa se tornou um rito memorial: Ex 12.14, 15, 24-27. A páscoa é uma memória da libertação do Egito. Ela deveria ser celebrada todos os anos. Todos os anos Israel se lembrariam do Deus Eu sou.

Mas, havendo Deus outrora falando aos pais pelos profetas, nesses últimos dias nos falou por meio de Jesus Cristo. Jesus é o nosso cordeiro pascal. Porque Cristo, nosso cordeiro da páscoa, já foi sacrificado (1Co 5.7b). “Antes de Abraão nascer, Eu sou”, disse Jesus (Jo 8.58). No Evangelho de João, por sete vezes Jesus afirma: “Eu sou” (por exemplo: Eu sou o pão da vida – 6.25; Eu sou a luz do mundo – 8.12).

“Eu sou o Senhor”. Essa é a declaração central do Êxodo (6.2, 6, 8). Javé é o Deus da aliança. Aliança com Abraão, Isaque e Jacó. Aliança com Israel no Egito. É o Deus da nova aliança, pelo sangue de Jesus. É o Deus que passou por entre as metades dos animais mortos. É o Deus que se comprometeu a assumir as conseqüências, caso a aliança fosse descumprida. É o Deus que assumiu sobre si o nosso pecado. É o Deus que se comprometeu a tomar o nosso jugo. É Deus que assumiu nosso lugar de escravo, paga o nosso pecado na cruz, e agora nos concede a salvação eterna. É o Deus que nos amou antes que houvesse mundo.

E você ainda duvida que esse Deus pode lhe dar a salvação eterna? Você ainda duvida de que o Evangelho seja o poder de Deus para salvar todo aquele que crê? Você ainda duvida de que a cruz seja o poder de Deus para aqueles que crêem? Você ainda duvida de que Deus seja o Deus Javé, o Deus Libertador, o Deus do êxodo, o Deus do novo êxodo, da nova aliança? Você ainda duvida de que Ele seja o Eu sou?

Infelizmente os israelitas não ouviram a mensagem do Deus Eu Sou, “por causa da angústia de espírito e da dura escravidão” (Ex 6.9 – Almeida Século XXI). A angústia e a escravidão insensibilizam o coração. Mas a libertação do Egito não dependia de quem eles eram, mas dependia exclusivamente de quem Deus é: o Deus Libertador, o Deus Eu Sou. Eles eram escravos, viviam na angústia, mas havia (e há) um Deus Poderoso, o Deus que iria intervir na história deles.

Não importa qual é o seu estado. Você sofre angústia? É escravo do pecado? Não deixe a angústia e a escravidão darem a última palavra sobre sua vida. Quando você diz: “eu sou escravo”, “eu sou oprimido”, “eu sou derrotado”, então o Senhor vem para você e afirma: “Eu Sou o Senhor”. Essa revelação divina sobrepuja todo tipo de escravidão e angústia. Confie Nele. Independente de quem você seja, lace-se sobre o Eu Sou. Porque a libertação não depende de quem você é, mas de quem Ele é. Ouça hoje essa a voz que diz: Eu Sou o Senhor.